domingo, 29 de março de 2015


Resenha: How languages are learned (Patsy M. Lightbown e Nina Spada)

Acadêmica: Carolina Filipaki


Capítulo 1:
Learning a first language

            Este livro tem como objetivo descrever e analisar as diversas teorias que explicam a aprendizagem de línguas, tanto as línguas nativas como as segundas línguas. No primeiro capítulo, as autoras fazem uma breve revisão das teorias de aprendizagem da primeira língua, mostrando como diferentes teorias, autores e perspectivas compreendem a aprendizagem da primeira língua.

Behaviorismo           
Caneta e caderno dos desenhos animadosA primeira teoria abordada é a do behaviorismo, que em sua visão mais tradicional coloca a aprendizagem da primeira língua como fruto da imitação e formação de hábitos. Contudo, estudos empíricos demonstram que na prática a linguagem da criança é seletiva naquilo que decide imitar. Além disso, a linguagem das crinças é criativa, ou seja, suas produções muitas vezes não são encontradas nas falas dos adultos.
Percebe-se que as crianças parecem pegar modelos e generalizá-los, aplicando-os em novos contextos, por meio de tentativa e erro, até que aprendem aquilo que é correto. Esta situação coloca em xeque a ideia de que toda produção é fruto da imitação, afinal, esta afirmação não consegue explicar as formas inéditas produzidas pelas crianças (p.6).

Inatismo
            O inatismo tem Noam Chomsky como principal teórico. Ele afirma que todas as crianças possuem um aparato inato e biológico (Language Acquisition Device), que faz com que a linguagem se desenvolva assim como qualquer outra função do corpo humano, a exemplo da capacidade de andar (p. 7).
            Nesta perspectiva, o contexto pouco influencia no desenvolvimento desta característica, pois as crianças nasceriam com a habilidade da linguagem e descobririam sozinhas as regras do sistema linguístico no qual estão socialmente inseridas. Para que esta descoberta aconteça, Chomsky acredita que toda pessoa nasce dotada com a gramática universal, que possui regras básicas de todas as línguas. A partir de pequenos inputs recebidos, a criança estaria apta a sozinha desenvolver esta capacidade (p. 8).

A hipótese do período crítico
            Chomsky aborda também a hipótese do período crítico, ou seja, aquele em que a pessoa teria mais facilidade de aprender. Segundo ele, até o início da puberdade, o Language Acquisition Device funcionaria mais corretamente e responderia melhor aos estímulos, sendo assim, o período que vai do nascimento ao início da puberdade seria o ideal para a aprendizagem de uma língua (p.11). O livro cita exemplos de crianças que devido ao isolamento, após o período crítico não conseguiram se tornar adultos com habilidades linguísticas normais.

A posição interacionista
            Como o nome desta teoria já deixa explícito, ela tem como foco a importância da interação entre as pessoas para que a língua seja desenvolvida de maneira normal, sendo esta interação é considerada crucial.

Considerações sobre o primeiro capítulo
            Este capítulo apresentou de diversas maneiras como a língua pode ser aprendida com base em diferentes perspectivas. Por meio de evidências e do relato de estudos de caso, as autoras mostram aquilo que as teorias conseguiram comprovar e os questionamentos levantados contra elas por meio situações que contradizem aquilo que é exposto pelos teóricos.
De maneira geral, pode-se afirmar que cada teoria explica aspectos diferentes do aprendizado da primeira língua, entretanto, nenhuma delas coloca fim às discussões, pois cada uma se dedica a um aspecto diferente do aprendizado da língua, deixando algumas lacunas que a própria teoria não explica.

Capítulo 2
Theories of second language learning

            O segundo capítulo aborda as teorias de aquisição da segunda língua. No início, as autoras esclarecem que muitas das teorias de aprendizagem de segunda língua utilizam-se das teorias que abordam a aprendizagem da primeira língua. Contudo, elas reiteram que a aprendizagem da primeira e da segunda língua, embora tenham pontos comuns, são eventos distintos e que devem ser tratados de maneira diferente.

Características do aprendiz
            As autoras destacam que todo estudante de segunda língua já possui conhecimento prévio, o qual pode ser útil porque ele compreende como a língua funciona, mas pode também atrapalhar porque pode fazer adivinhações erradas acerca da língua que está aprendendo e ser induzido a erros devido a este conhecimento prévio (p.21).
            Destaca-se também a diferença entre os jovens aprendizes e os mais velhos. As autoras dizem que o jovem aprendiz pode não possuir maturidade cognitiva, consciência metalinguística e conhecimento de mundo que o aprendiz de segunda língua tem e que o aprendiz da primeira língua náo temmedo de usar a língua mesmo com baixa proficiência (p.22).

Learning conditions
            Os jovens aprendizes de segunda língua em contexto informal de aprendizagem falam quando estão prontos, enquanto os adultos comumente são forçados a falar. Os aprendizes mais velhos recebem apenas nas salas de aula a exposição limitada da segunda língua e que neste meio os erros são corrigidos, ao contrário do que acontece numa situação informal de aprendizado. Neste contexto, frisa-se também a questão do imput modificado, emq eu os professores adaptam a fala para facilitar a compreensão.

Behaviourism: the second language views
            Na perspectiva do behaviorismo para a segunda língua, os erros são vistos como hábitos da primeira língua que interferem na aprendizagem da segunda. Com isso, na visão behaviorista, o aprendiz teria mais facilidade em aprender estruturas similares à da primeira língua.
            A principal crítica a esta visão é a de que o behaviorismo diz que os erros são previsíveis, mas ele não explica tudo o que acontece.

Cognitive theory: a new psychological approach
            A teoria cognitiva vê a aquisição da segunda língua como uma construção de sistemas de conhecimento que podem ser acessados automaticamente para a fala e a compreensão. Sendo assim, por meio da experiência e prática, aprendizes conseguem ter a habilidade de usar certas ‘partes’ do conhecimento adquirido tão rápido e automaticamente, que nem percebem o que estão fazendo.

Creative construction theory
            Nesta hipóteses, os aprendizes construiriam representações internas da língua que está sendo aprendida, ou seja, imagens mentais da língua alvo. Com isso, essas representações internas vão se transformando gradativamente em um sistema complexo da língua alvo.
            A aquisição acontece de maneira interna enquanto os estudantes são expostos à língua e sua fala a escrita são frutos do processo de aprendizagem e não um meio para se aprender, como estabelecem outras teorias.

A teoria do monitor
            Stephen Krashen desenvolveu uma teoria de aprendizagem de segunda língua composta por cinco hipóteses:
1 – The acquisition-learning hypothesis: ele difere aquisição de aprendizagem. A aquisição ocorre quando o aprendiz se envolve de maneira significativa com a segunda língua, como acontece com as crianças que aprendem uma primeira língua. A aprendizagem seria um processo consciente de estudos e atenção às estruturas da língua alvo, como acontece nas salas de aula.
2 – The monitor hypothesis: o sistema linguístico aprendido atuaria como um monitor, que faz com que o falante reflita sobre aquilo que irá produzir, desta forma, ele precisa de tempo suficiente, foco na estrutura e conhecimento das regras.
3 – The natural order hypothesis: esta hipótese estabelece que as regras da língua são adquiridas numa sequência previsível, em que algumas regras são aprendidas logo no início e que outras são compreendidas apenas mais tarde.
4 – The input hypothesis: a língua só é aprendida quando se recebe estímulo compreensível, ou seja, o aprendiz precisa compreender a mensagem.
5 – The affective filter hypothesis: é uma barreira imaginária que não permite que o aprendiz utilize o input disponível no ambiente. Isso se deve a vários fatos, a exemplo do estado emocional do aprendiz.


Capítulo 3
Factors affecting second language learning

            Neste capítulo as autoras tratam dos fatores que afetam a aprendizagem da segunda língua, que vão além daqueles descritos na teoria do filtro afetivo, de Krashen, abordada no capítulo anterior. Entre estes fatores estão inteligência, aptidão, motivação e atitudes.
            As autoras buscam listar as características que fazem com que alguns alunos progridam mais rapidamente do que outros no aprendizado da segunda língua. Para tanto, utilizam-se de exemplos que mostram como aprendizes com personalidades diferentes e que cresceram em ambientes diversos apresentam resultados discrepantes no aprendizado de uma segunda língua.
            As diferenças individuais que podem afetar o aprendizado da segunda língua listadas pelas autoras são: inteligência, aptidão, personalidade, motivação, atitude, estilos de aprendizagem, idade da aquisição e intuições gramaticais.
            Entretanto, concluiu-se que estudar as características individuais dos aprendizes é muito complexa e que os resultados não são satisfatórios, afinal, cada aprendiz tem um conjunto de características diferentes que se relacionam e interferem de maneira diferente em seu aprendizado.





Capítulo 4
Learner language

O quarto capítulo é um convite para refletir além das características do aprendiz, mas para pensar na língua do aprendiz. Por meio de diversos exemplos práticos, as autoras examinam os tipos de erros que os aprendizes cometem e discutem como estes erros podem refletir o conhecimento que os aprendizes têm da língua alvo e sua habilidade para utilizar este conhecimento.
Também são observados os estágios e sequências na aquisição de certas estruturas linguísticas, como é o caso dos verbos regulares e irregulares no passado, cuja utilização, ainda que errônea, pode demonstrar a familiaridade do aprendiz com a língua que está aprendendo. Neste contexto, as autoras analisam como os estágios do aprendiz da segunda língua se assemelham aos estágios vividos pelos aprendizes da língua materna.



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