RESENHA: COMO
AS LÍNGUAS SÃO APRENDIDAS
Fabiane Caron Novaes
1. APRENDENDO A PRIMEIRA LÍNGUA
Um dos mais fascinantes aspectos do desenvolvimento
humano é a capacidade de aprender línguas. Todos nós assistimos e ouvimos com
absoluto fascínio aos primeiros grunhidos, soando como uma conversação, que são
pronunciados por um bebê de aproximadamente seis meses.
Nesse capítulo, consideraremos várias teorias que
oferecem explicações de como a língua é aprendida. Três posições teóricas
centrais serão discutidas: behaviorismo, inatismo e as interações de aquisição
linguística.
Diga
o que eu digo: a posição behaviorista
Behavioristas são tradicionais, acreditam que aprender
língua é simplesmente uma questão de imitação e formação de habitat. Crianças
imitam os sons e padrões os quais elas ouvem e recebem reforço positivo (que
pode ser recebido em forma de uma frase ou de sucesso na comunicação) por fazer
isso. Isso é encorajado pelo ambiente em que vive, continuam a imitar e a praticar
esses sons e padrões até formarem hábitos do uso correto da língua.
A visão behaviorista de como a língua é aprendida tem um
apelo intuitivo. E não tem dúvida que oferece uma explicação, em partes de como
primeiro uma criança aprende a língua. Então imitação e prática são os
processos primários no desenvolvimento da língua. Mas não explica como a
criança erra (sendo que tais erros não foram cometidos pelos adultos para ela
imitar) e como ela usa, aprende a palavra e a usa em novos contextos até
aprender qual é o certo.
A criança imita até aprender, e então vai repetir outras
palavras novas que ainda não ficaram sólidas em seu sistema linguístico.
Está
tudo na sua mente: posição inatista
O linguista Noam Chomsky diz que as crianças são biologicamente
programadas para língua e que a língua se desenvolve do mesmo jeito que as
outras funções se desenvolvem. O ambiente faz uma básica contribuição (pessoas
que falam com a criança), a criança, ou melhor, o dote biológico da criança,
faz o resto.
Chomsky fala que os behavioristas falharam em reconhecer
o problema lógico de aquisição da linguagem (o fato das crianças saberem mais
sobre a estrutura da linguagem do que os exemplos de linguagem que elas ouvem).
A linguagem que é exposta no ambiente para a criança é
cheia de informação confusa e não providencia toda a informação que a criança
precisa. Chomsky diz que a mente da criança não é uma folha em branco a ser
preenchida meramente por imitações de linguagem que elas ouvem. Crianças nascem
com uma habilidade especial de descobrir por elas mesmas as regras faladas do sistema
linguístico.
Chomsky se refere a essa habilidade como 'dispositivo de
aquisição de linguagem' (DAL - em inglês é o LAD) e é descrito como uma caixa
preta imaginária, contendo os princípios universais de todos os seres humanos.
Pro DAL funcionar, a criança precisa acessar exemplos da linguagem nativa. Existe
fundamento nesta teoria, pois a linguagem a qual a criança é exposta não contém
todas as informações que elas eventualmente sabem.
Base biológica: idéia compatível com o biologista Eric
Lenneberg. Crianças que ouvem, mas não falam podem aprender a linguagem,
entendendo até sentenças complexas. Lenneberg argumenta que o dispositivo de
aquisição linguística, como outras funções biológicas, funciona com sucesso só
quando é estimulada no tempo certo (período crítico).
Essa noção de um tempo específico e limitado é a hipótese
do período crítico (HPC - em inglês é CPH). Tem duas versões, a mais forte é
que a criança tem que adquirir sua primeira língua até a puberdade, se não for
assim não aprende mais. A outra mais fraca é que aprender a linguagem será mais
difícil e incompleta depois da puberdade.
Mãe
é a palavra: a posição interacionista
O foco é o ambiente linguístico em interação com as
capacidades inatas da criança em determinar o desenvolvimento da linguagem.
A posição interacionista é que a linguagem se desenvolve
como um resultado da ação recíproca e complexa entre as características humanas
da criança e o ambiente no qual a criança se desenvolve.
Ao contrário dos inatistas, o interacionista diz que a
linguagem a qual é modificada para se acomodar a capacidade de aprender é um
elemento crucial no processo de aquisição da linguagem.
Caretaker talk é o discurso diretamente com a criança
(traduzido algo como "a conversa do que cuida da criança") e o
caretaker precisa providenciar uma interação modificada (sempre mudar o
discurso)
2. TEORIAS PARA A AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LÍNGUA
Características do aprendizado: Todos os que aprendem a
segunda língua já tem uma primeira, por isso possuem a idéia de como uma língua
funciona, mas podem cometer erros por causa disso. Crianças começam a aprender
a segunda língua sem o benefício de algumas habilidades e conhecimentos que
adolescentes e adultos já possuem.
As crianças não têm a cognitividade madura, a consciência
metalinguística ou conhecimento de palavra, mas por outro lado as crianças não
têm medo de usar a outra língua, mesmo que seja limitada, então praticam mais.
Condição do aprendizado: A criança aprende a segunda língua
em um ambiente informal, podem falar só quando se sentirem preparados e são
expostas a essa língua por muitas horas por dias. Já os adolescentes e adultos são
obrigados a falar (aula de inglês, por exemplo) e são expostos a uma limitada
quantia de horas.
Uma condição que todas as idades têm é o acesso a um estímulo
modificado. Quem interage regularmente com as línguas aprendidas tem um senso
intuitivo (fala mais naturalmente, não precisa pensar tanto).
Behaviorismo:
visão da segunda linguagem:
Todo aprendizado, seja verbal ou não, acontece através de
formação de hábito. Recebem reforço positivo através de repetições corretas e
imitações; como resultado hábitos são formados. Então a pessoa aprendendo a segunda
língua começa pelos hábitos associados a uma língua, novos hábitos precisarão
ser formados.
Erros são vistos como hábito da primeira língua
interferindo na aquisição da segunda (hipótese da análise de contraste, isto é,
quem está aprendendo tem facilidade onde as duas línguas são parecidas e dificuldade
onde são diferentes). Esta explicação é incompleta, os processos são mais
complexos.
Teoria
Cognitiva:
A aquisição da segunda língua é uma construção do sistema
do conhecimento que eventualmente poderá ser chamado de automático em relação a
falar e entender. Precisa de experiência e prática.
Algumas coisas que sabemos e usamos automaticamente não
são construídas com autonomia através da prática. Parece ser baseada na
interação de conhecimentos que nós já temos ou na aquisição de um conhecimento
novo o qual sem prática extensiva de alguma forma encaixa no sistema existente
e o reestrutura.
A teoria não pode predizer que tipos de estruturas serão
automatizadas através da prática e o que será reestruturado. Aplicar esta
teoria na classe seria muito prematuro.
Teoria
da construção criativa
Chomsky não fez nada sobre a segunda língua, e quem fez
foi similar com as idéias dele sobre inatismo. Quem está aprendendo passa por
uma construção interna de representações da língua como imagens mentais.
Essa teoria teve maior influência na prática de ensinar
uma segunda língua que foi proposta por Krashen, que desenvolveu o modelo
monitor com cinco hipóteses básicas: a hipótese da aquisição-aprendizado, a
hipótese monitorada, a hipótese de ordem natural, a hipótese de estímulo e a
hipótese de filtro afetivo.
A
visão interacionista
A visão interacionista se preocupa em como o estímulo faz
a língua ser compreensível. Essas modificações interacionais se dão através de
conversas entre o nativo da língua e o que está aprendendo.
Interação modificada é necessária para aquisição da língua.
Como acontece: a modificação interacional faz o estímulo compreensível, o estímulo
compreensível promove a aquisição então a modificação interacional promove a aquisição.
3. FATORES
QUE AFETAM O APRENDIZADO DA SEGUNDA LÍNGUA
Os fatores que afetam o aprendizado da
segunda língua são os individuais, como personalidade; e os gerais, como
inteligência, aptidão, motivação e atitude. A idade de aprendizado também
influencia. Para descobrir a influência de cada característica, os
pesquisadores selecionam um grupo e preparam questionários e testes.
Inteligência
Foi comprovado que a inteligência é um fator importante
para a aprendizagem da segunda língua em relação à gramática, leitura e
vocabulário. E facilita a aquisição assim como os outros fatores gerais.
Aptidão
Outro fator que pode influenciar o
aprendizado de uma segunda língua é a aptidão, isto quer dizer que algumas
pessoas possuem uma grande aptidão (ou seja, facilidade) em aprender uma
segunda língua.
Personalidade
É um fator individual que cada pessoa possui,
as características podem ajudar ou prejudicar a aprendizagem. Geralmente é dito
que pessoas extrovertidas têm vantagem no aprendizado. Inibição, auto-estima,
empatia, domínio, articulação da fala e responsabilidade também interferem.
Motivação
e atitude
Atitude positiva e maior motivação levam à
maior sucesso na aprendizagem da segunda língua. Depende da atitude
(comprometimento) da pessoa com a aprendizagem e depende do que o motiva a
aprender essa segunda língua (trabalho, lazer).
Estilos
de aprendizado
Cada pessoa tem sua estratégia de aprendizado
e conjunto de habilidades. Cada uma aprende de um jeito (visual, oral, por
exemplo, etc.) e utiliza essas habilidades para facilitar a aprendizagem.
Idade
de aquisição
Existe a idade crítica onde uma pessoa
aprende a segunda língua quase como a primeira, que é até a pré adolescência. É
comprovado que aprender a segunda língua durante essa idade é muito mais
vantajoso. As motivações temporais das idades são diferentes. Quanto antes uma
pessoa aprender uma segunda língua, menos sotaque esta pessoa vai adquirir.
4.
APRENDIZ DA LINGUAGEM
Este capítulo não focará mais nas
características de aprendizagem e sim na própria linguagem do aprendiz. As
crianças não aprendem apenas por imitação e prática, mas são processos internos
e conhecimento permitindo descobrir as complexidades da linguagem adulta.
A linguagem da criança é diferente da do
adulto, ela é vista como um próprio sistema e pessoas que aprendem uma segunda
língua, muito se assimilam ao processo da criança aprendendo a sua primeira
língua.
Os erros dos aprendizes são as tentativas
deles de descobrir a estrutura da linguagem que eles estão aprendendo. Tanto na
aquisição da primeira como na segunda língua, existem estágios no desenvolvimento
de certas estruturas particulares.
A aquisição da segunda língua de maneira natural,
da morfologia gramatical, sem instrução, não é determinada pela primeira língua,
vai ser aprendida naturalmente.
Em relação às sentenças negativas, a
aquisição da primeira e da segunda língua naturalmente é bem parecida. Leva um
tempo para serem aprendidas as regras gramaticais das sentenças negativas.
Ao formar questões na aquisição da primeira
língua, a criança só consegue perguntar o que ela consegue responder. Em
relação à aquisição da segunda língua naturalmente é similar a primeira, e a
diferença é que elas sofrem influência da primeira língua que eles já sabem.
Os aprendizes da segunda língua aprendem oração
relativa, com sujeito e objeto fixo e só depois, aprendem a modificar a
estrutura nas sentenças. Foi observado que os aprendizes da segunda língua, que
recebem estrutura da gramática básica, passam por uma sequência de
desenvolvimento e erros parecidos com os que aprendem a linguagem de uma
maneira natural.
Referência:
LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina.
How Languages are Learned.
Oxford: Oxford University Press,
1993.
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