domingo, 22 de março de 2015
RESENHA: COMO AS LÍNGUAS SÃO APRENDIDAS

Fabiane Caron Novaes 

1. APRENDENDO A PRIMEIRA LÍNGUA

Um dos mais fascinantes aspectos do desenvolvimento humano é a capacidade de aprender línguas. Todos nós assistimos e ouvimos com absoluto fascínio aos primeiros grunhidos, soando como uma conversação, que são pronunciados por um bebê de aproximadamente seis meses.
Nesse capítulo, consideraremos várias teorias que oferecem explicações de como a língua é aprendida. Três posições teóricas centrais serão discutidas: behaviorismo, inatismo e as interações de aquisição linguística.

Diga o que eu digo: a posição behaviorista

Behavioristas são tradicionais, acreditam que aprender língua é simplesmente uma questão de imitação e formação de habitat. Crianças imitam os sons e padrões os quais elas ouvem e recebem reforço positivo (que pode ser recebido em forma de uma frase ou de sucesso na comunicação) por fazer isso. Isso é encorajado pelo ambiente em que vive, continuam a imitar e a praticar esses sons e padrões até formarem hábitos do uso correto da língua.
A visão behaviorista de como a língua é aprendida tem um apelo intuitivo. E não tem dúvida que oferece uma explicação, em partes de como primeiro uma criança aprende a língua. Então imitação e prática são os processos primários no desenvolvimento da língua. Mas não explica como a criança erra (sendo que tais erros não foram cometidos pelos adultos para ela imitar) e como ela usa, aprende a palavra e a usa em novos contextos até aprender qual é o certo.
A criança imita até aprender, e então vai repetir outras palavras novas que ainda não ficaram sólidas em seu sistema linguístico. 

Está tudo na sua mente: posição inatista

O linguista Noam Chomsky diz que as crianças são biologicamente programadas para língua e que a língua se desenvolve do mesmo jeito que as outras funções se desenvolvem. O ambiente faz uma básica contribuição (pessoas que falam com a criança), a criança, ou melhor, o dote biológico da criança, faz o resto.
Chomsky fala que os behavioristas falharam em reconhecer o problema lógico de aquisição da linguagem (o fato das crianças saberem mais sobre a estrutura da linguagem do que os exemplos de linguagem que elas ouvem).
A linguagem que é exposta no ambiente para a criança é cheia de informação confusa e não providencia toda a informação que a criança precisa. Chomsky diz que a mente da criança não é uma folha em branco a ser preenchida meramente por imitações de linguagem que elas ouvem. Crianças nascem com uma habilidade especial de descobrir por elas mesmas as regras faladas do sistema linguístico.
Chomsky se refere a essa habilidade como 'dispositivo de aquisição de linguagem' (DAL - em inglês é o LAD) e é descrito como uma caixa preta imaginária, contendo os princípios universais de todos os seres humanos. Pro DAL funcionar, a criança precisa acessar exemplos da linguagem nativa. Existe fundamento nesta teoria, pois a linguagem a qual a criança é exposta não contém todas as informações que elas eventualmente sabem.
Base biológica: idéia compatível com o biologista Eric Lenneberg. Crianças que ouvem, mas não falam podem aprender a linguagem, entendendo até sentenças complexas. Lenneberg argumenta que o dispositivo de aquisição linguística, como outras funções biológicas, funciona com sucesso só quando é estimulada no tempo certo (período crítico).
Essa noção de um tempo específico e limitado é a hipótese do período crítico (HPC - em inglês é CPH). Tem duas versões, a mais forte é que a criança tem que adquirir sua primeira língua até a puberdade, se não for assim não aprende mais. A outra mais fraca é que aprender a linguagem será mais difícil e incompleta depois da puberdade.

Mãe é a palavra: a posição interacionista

O foco é o ambiente linguístico em interação com as capacidades inatas da criança em determinar o desenvolvimento da linguagem.
A posição interacionista é que a linguagem se desenvolve como um resultado da ação recíproca e complexa entre as características humanas da criança e o ambiente no qual a criança se desenvolve.
Ao contrário dos inatistas, o interacionista diz que a linguagem a qual é modificada para se acomodar a capacidade de aprender é um elemento crucial no processo de aquisição da linguagem.
Caretaker talk é o discurso diretamente com a criança (traduzido algo como "a conversa do que cuida da criança") e o caretaker precisa providenciar uma interação modificada (sempre mudar o discurso)


2. TEORIAS PARA A AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LÍNGUA

Características do aprendizado: Todos os que aprendem a segunda língua já tem uma primeira, por isso possuem a idéia de como uma língua funciona, mas podem cometer erros por causa disso. Crianças começam a aprender a segunda língua sem o benefício de algumas habilidades e conhecimentos que adolescentes e adultos já possuem.
Menina, Escrito, Escola, AprendizagemAs crianças não têm a cognitividade madura, a consciência metalinguística ou conhecimento de palavra, mas por outro lado as crianças não têm medo de usar a outra língua, mesmo que seja limitada, então praticam mais.
Condição do aprendizado: A criança aprende a segunda língua em um ambiente informal, podem falar só quando se sentirem preparados e são expostas a essa língua por muitas horas por dias. Já os adolescentes e adultos são obrigados a falar (aula de inglês, por exemplo) e são expostos a uma limitada quantia de horas.
Uma condição que todas as idades têm é o acesso a um estímulo modificado. Quem interage regularmente com as línguas aprendidas tem um senso intuitivo (fala mais naturalmente, não precisa pensar tanto).

Behaviorismo: visão da segunda linguagem:

Todo aprendizado, seja verbal ou não, acontece através de formação de hábito. Recebem reforço positivo através de repetições corretas e imitações; como resultado hábitos são formados. Então a pessoa aprendendo a segunda língua começa pelos hábitos associados a uma língua, novos hábitos precisarão ser formados.
Erros são vistos como hábito da primeira língua interferindo na aquisição da segunda (hipótese da análise de contraste, isto é, quem está aprendendo tem facilidade onde as duas línguas são parecidas e dificuldade onde são diferentes). Esta explicação é incompleta, os processos são mais complexos.

Teoria Cognitiva:

A aquisição da segunda língua é uma construção do sistema do conhecimento que eventualmente poderá ser chamado de automático em relação a falar e entender. Precisa de experiência e prática.
Algumas coisas que sabemos e usamos automaticamente não são construídas com autonomia através da prática. Parece ser baseada na interação de conhecimentos que nós já temos ou na aquisição de um conhecimento novo o qual sem prática extensiva de alguma forma encaixa no sistema existente e o reestrutura.
A teoria não pode predizer que tipos de estruturas serão automatizadas através da prática e o que será reestruturado. Aplicar esta teoria na classe seria muito prematuro.

Teoria da construção criativa

Chomsky não fez nada sobre a segunda língua, e quem fez foi similar com as idéias dele sobre inatismo. Quem está aprendendo passa por uma construção interna de representações da língua como imagens mentais.
Essa teoria teve maior influência na prática de ensinar uma segunda língua que foi proposta por Krashen, que desenvolveu o modelo monitor com cinco hipóteses básicas: a hipótese da aquisição-aprendizado, a hipótese monitorada, a hipótese de ordem natural, a hipótese de estímulo e a hipótese de filtro afetivo.

A visão interacionista

A visão interacionista se preocupa em como o estímulo faz a língua ser compreensível. Essas modificações interacionais se dão através de conversas entre o nativo da língua e o que está aprendendo.
Interação modificada é necessária para aquisição da língua. Como acontece: a modificação interacional faz o estímulo compreensível, o estímulo compreensível promove a aquisição então a modificação interacional promove a aquisição.


3. FATORES QUE AFETAM O APRENDIZADO DA SEGUNDA LÍNGUA

Os fatores que afetam o aprendizado da segunda língua são os individuais, como personalidade; e os gerais, como inteligência, aptidão, motivação e atitude. A idade de aprendizado também influencia. Para descobrir a influência de cada característica, os pesquisadores selecionam um grupo e preparam questionários e testes.

Inteligência

Foi comprovado que a inteligência é um fator importante para a aprendizagem da segunda língua em relação à gramática, leitura e vocabulário. E facilita a aquisição assim como os outros fatores gerais.

Aptidão

Outro fator que pode influenciar o aprendizado de uma segunda língua é a aptidão, isto quer dizer que algumas pessoas possuem uma grande aptidão (ou seja, facilidade) em aprender uma segunda língua.

Personalidade

É um fator individual que cada pessoa possui, as características podem ajudar ou prejudicar a aprendizagem. Geralmente é dito que pessoas extrovertidas têm vantagem no aprendizado. Inibição, auto-estima, empatia, domínio, articulação da fala e responsabilidade também interferem.

Motivação e atitude

Atitude positiva e maior motivação levam à maior sucesso na aprendizagem da segunda língua. Depende da atitude (comprometimento) da pessoa com a aprendizagem e depende do que o motiva a aprender essa segunda língua (trabalho, lazer).

Estilos de aprendizado

Cada pessoa tem sua estratégia de aprendizado e conjunto de habilidades. Cada uma aprende de um jeito (visual, oral, por exemplo, etc.) e utiliza essas habilidades para facilitar a aprendizagem.

Idade de aquisição

Existe a idade crítica onde uma pessoa aprende a segunda língua quase como a primeira, que é até a pré adolescência. É comprovado que aprender a segunda língua durante essa idade é muito mais vantajoso. As motivações temporais das idades são diferentes. Quanto antes uma pessoa aprender uma segunda língua, menos sotaque esta pessoa vai adquirir.


4. APRENDIZ DA LINGUAGEM

Este capítulo não focará mais nas características de aprendizagem e sim na própria linguagem do aprendiz. As crianças não aprendem apenas por imitação e prática, mas são processos internos e conhecimento permitindo descobrir as complexidades da linguagem adulta.
A linguagem da criança é diferente da do adulto, ela é vista como um próprio sistema e pessoas que aprendem uma segunda língua, muito se assimilam ao processo da criança aprendendo a sua primeira língua.
Os erros dos aprendizes são as tentativas deles de descobrir a estrutura da linguagem que eles estão aprendendo. Tanto na aquisição da primeira como na segunda língua, existem estágios no desenvolvimento de certas estruturas particulares.
A aquisição da segunda língua de maneira natural, da morfologia gramatical, sem instrução, não é determinada pela primeira língua, vai ser aprendida naturalmente.
Em relação às sentenças negativas, a aquisição da primeira e da segunda língua naturalmente é bem parecida. Leva um tempo para serem aprendidas as regras gramaticais das sentenças negativas.
Ao formar questões na aquisição da primeira língua, a criança só consegue perguntar o que ela consegue responder. Em relação à aquisição da segunda língua naturalmente é similar a primeira, e a diferença é que elas sofrem influência da primeira língua que eles já sabem.
Os aprendizes da segunda língua aprendem oração relativa, com sujeito e objeto fixo e só depois, aprendem a modificar a estrutura nas sentenças. Foi observado que os aprendizes da segunda língua, que recebem estrutura da gramática básica, passam por uma sequência de desenvolvimento e erros parecidos com os que aprendem a linguagem de uma maneira natural.

  
Referência:

LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina.
How Languages are Learned.

Oxford: Oxford University Press, 1993.

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