Porque estudar é essencial!
Um dos pilares da formação docente é o conhecimento, pois a prática não se sustenta por si só. E a maior função e responsabilidade dos docentes encarregados dessa formação acadêmica-profissional-pessoal é oportunizar o contato com as teorias de ensino/aprendizagem relevantes e em foco nos estudos da área, bem como o conhecimento da legislação vigente. Durante as férias acadêmicas, o cérebro dos pibidianos de Língua Inglesa ficou ocupado com dois assuntos de extrema relevância: as diretrizes contidas na BNCC e a Teoria da Complexidade, sendo que, neste momento, eles poderiam optar por um dos enfoques. A Base Nacional Comum Curricular configura-se em documento oficial que tende a substituir os antigos PCNs, futuramente, e merece toda a atenção dos licenciandos. Já a Teoria da Complexidade emerge como uma das teorias que melhor explica o processo da aprendizagem por suas especifidades cognitivas e integração de elementos valiosos na compreensão da aquisição de conhecimentos pelo elemento humano. Deixo a seguir, as percepções apresentadas pelos acadêmicos do PIBID/Inglês em forma de resenhas. Boa leitura!
A
formação do aluno como cidadão em uma educação caótica e complexa
Bruno Henrique Porazzi
Um dos principais tópicos presentes
nas DCEs e PCNs acerca da formação do aluno em todo processo escolar remete a
formação de cidadãos críticos para viver em sociedade, todavia, em muitas
instâncias esses registros tornam-se utópicos e controversos. As formas como
grande parte dos educadores do país trabalham é objetiva e rudimentar, sendo
incapaz de desprender-se do material didático e assumir uma posição autêntica
referente a maneira de como ensinar. Esses aspectos citados, devem ser supridos
em toda formação como professor, entretanto é importante ressaltar de que a
educação não sofreu grandes reviravoltas em décadas.
Atualmente os sistemas educacionais
têm como base a homogeneidade dos fatos, como por exemplo, X só pode ser igual
a X, tudo que não se ajustar a essa dinâmica fica excluído; essa representação,
faz com que o educador fique ainda mais submisso ao material didático, e dessa
maneira, não é considerada toda a formação acadêmica do educador. Esse modelo
supracitado, é reflexo de um passado que possui marcas profundas na educação.
Há oito décadas, no início do ano de 1830, o Estado buscava especialização em
mão-de-obra e transforma o jeito de como ensinar, de maneira com a qual o aluno
se prepare para o mercado do trabalho. Hoje em dia essa marca ainda é reflexo
do passado, porém está escondida atrás de um inimigo de todos os alunos que
estão em suas últimas etapas do ensino médio, o vestibular.
Tal objetivo descrito anteriormente,
faz com que o aluno fique em uma encruzilhada em sua formação, pois a pressão
de conseguir um bom resultado em um vestibular, faz com que desconsidere tais
conteúdos que são importantíssimos para o seu saber. Na maioria dos casos, uma
das matérias que possui menos interesse pelo aluno é a de línguas adicionais,
que além de ser desconsiderada por parte deles, não possui autonomia em
reuniões de classe e demais encontros com professores. A língua inglesa, em
especial, é tratada como uma repetição de conteúdos entediante e fútil,
todavia, apenas os professores de línguas adicionais entendem o quão difícil se
torna a cumprir sua missão em tão poucas aulas e sem a devida atenção dos
alunos.
Para ultrapassar esse complexo
paradigma da educação, é necessário tratar do aprendizado em diferentes modelos
de pensamento, são eles: pensamento linear, trata-se de uma abordagem para as
práticas mecânicas; pensamento sistêmico, refere-se à um instrumento de
compreensão da complexidade do mundo natural; e o pensamento complexo que
resulta na complementariedade das visões de mundo sistêmica e linear. Esses
modelos tornam-se substanciais para promover princípios únicos relacionados a
educação e a cidadania, tais como:
·
Todas as ações implicam em outras;
·
Autonomia nos projetos realizados;
·
Constante mudanças de sistemas;
·
Relacionar um conhecimento com o outro
de forma com o qual complemente o outro;
·
Possibilidade de realizar trabalhos em
grupo;
·
Facilita a forma de enfrentar situações
no cotidiano;
·
Melhora a comunicação e as relações
pessoais;
·
Respeita opiniões diferentes das
próprias.
Algumas das maneiras de
articular a cidadania em sala de aula, é fazer com que os alunos participem de
eventos e atividades culturais, visto que, a cidadania faz parta da formação
humana, que segundo Piaget, ele a descreve da seguinte forma, “os fenômenos
humanos são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus
meios”, em outras palavras, todo humano passa por um processo bio-psico-social,
que é concebido da seguinte maneira:
- bio: conhecimento de mundo;
- psico: percepções que geral
sentimentos e emoções;
- social: elaboração dos tópicos anteriores
que irão determinar o comportamento cotidiano.
A
formação docente é o passo mais importante em todo o desenvolvimento do
educador, pois essa função, influencia diretamente na vida do aluno e em sua
ideologia. É necessário que o professor saiba do significado da palavra
educação, que em seu sentido amplo, é o ato de instruir, polir e disciplinar,
porém, é importante que não se restrinja apenas a esses conceitos, mas sim, que
projete de diversas formas a maneira de como ensinar. Um professor deve ser desenvolto
e reflexivo, avaliando de forma constante as suas origens, propósitos e as
consequências de seu trabalho em todos os níveis, desta forma, o educador
desenvolverá competência profissional por meio de reflexões teóricas e
práticas. Tais observações, fazem com que o professor aprimore suas habilidades
em diferentes categorias, são elas:
- mapear: consiste em observar e coletar
evidências do próprio ensino;
- informar: buscar significados por trás
do mapeamento;
- contestar: procura inconsistências na
relação dizer-fazer;
- instruir: busca por caminhos
alternativos;
- agir: tentativa de ação em
conformidade com as reflexões feitas.
A
concepção de linguagem é outro fator importantíssimo na formação do aluno e do
professor, que deve ser desenvolvida de uma forma empática e compreensiva,
fazendo com que o diálogo seja complementar ao aprendizado, envolvendo sistemas
linguísticos como, dialetos, variedades linguísticas, registros falas
individuais, entre outras. Tais questões, enfrentam uma barreira enorme no
estudo de línguas adicionais, visto que o ensino da língua não tem um impacto
tão grande na formação do aluno, devido às questões já discutidas
anteriormente.
Levando
em consideração os aspectos abordados, percebe-se que a formação do professor
deve partir de um pressuposto pessoal em toda a sua jornada, tendo isso em
mente, ele saberá o que representa em sala de aula e o aluno não irá aprender
apenas os conteúdos, mas sim como ser um cidadão e agir na sociedade, pois
nenhum ser humano deve ser tratado de forma individual, mas pelo contrário,
parte de um grande todo.
REFERÊNCIAS:
BORGES, Elaine Ferreira do Bale. Um modelo caótico de desenvolvimento
reflexivo da profissionalidade de professores de línguas. ReVEL., v. 14,
n27,2016 [www.revel.inf.br].
MARIOTTI, Humberto. Complexidade e pensamento complexo, Texto introdutório. São Paulo:
Editora Palas Athena, 2000.
RAMOS, Roberto. A educação e o conhecimento: uma abordagem complexa. Curitiba:
Editora UFPR, 2008.
BOEIRA, Sérgio Luís. Paradigma e Complexidade: Breve introdução.
COMPLEXIDADE
Fabiane Caron Novaes
Definir complexidade não é
simplesmente afirmar que algo é complicado. Para Boeira (2005) a complexidade
não está inclinada para um só lado, ela recusa a unilateridade e aborda a
realidade contraditória e ambígua de uma maneira complexa. Segundo Morin (2005),
paradigma é uma noção além das paredes das universidades, que “transcende os
grupos de cientistas e remete a um conjunto de princípios que estão, por assim
dizer, além das teorias, atrás e na frente de toda teorização.”
Condicionando as teorias e o
processo de teorizar, não se pode considerar paradigma uma teoria, há dimensões
veladas num paradigma. Já o paradigma da complexidade procede da consciência
dos fracassos do paradigma e da crítica do paradigma da simplificação, reunindo
vários paradigmas menores. Morin traça ao menos sete paradigmas da
complexidade.
Complexidade é um fato, no
mundo natural ele está ligado à multiplicidade, ao vínculo e a interação
ininterrupta da imensidade de sistemas e fenômenos. Os sistemas complexos fazem
parte de nós e vice versa. A complexidade é abrangente, flexível e um sistema
de pensamento aberto – pensamento complexo. Mariotti (2000) define que a
experiência humana não se divide em partes e nem se reduz a uma apenas, ela é
toda bio-psico-social. Primeiro – percebemos o mundo, depois estas percepções
geram sentimentos e emoções. Então se elaboram os pensamentos que determinam o
nosso comportamento no dia a dia.
Para Mariotti “o modelo
mental cartesiano é indispensável para resolver os problemas humanos mecânicos (abordáveis
pelas ciências ditas exatas e pela tecnologia).” Porém é insuficiente para solucionar
problemas humanos em que atuam as emoções e sentimentos (a dimensão
psico-social). O autor dá um exemplo:
O raciocínio linear aumenta a
produtividade industrial por meio da automação, mas não consegue resolver o
problema do desemprego e da exclusão social por ela gerados, porque se trata de
questões não-lineares. O mundo financeiro é apenas mecânico, mas o universo da
economia é mecânico e humano. (MARIOTTI, Humberto, 2000, p.2)
O pensamento complexo
permite entender vários processos e baseia-se na obra de vários autores, e os trabalhos
podem ser aplicados em biologia, sociologia, antropologia social e
desenvolvimento sustentado. Humberto Maturana e Francisco Varela desenvolveram
a biologia da cognição, que é uma das principais linhas, sustentando a realidade
e “é percebida por um dado indivíduo segundo a estrutura de seu organismo num
dado momento. Essa estrutura muda sempre, de acordo com a interação do organismo
com o meio.”
Devemos equilibrar razão e
emoção, porque o racional vem do emocional, não o contrário. E harmonizar o pensamento
linear e o pensamento sistêmico. Esse é o projeto basilar do modelo complexo e
crescer numa cultura significa adquirir e desenvolver cidadania. Baseando-se
apenas no pensamento linear, não se pode produzir um entendimento aceitável da
cidadania e do desenvolvimento sustentado Mas também, o pensamento sistêmico,
quando isolado, é também insuficiente para os mesmos propósitos.
Em relação ao pensamento
linear podemos dizer que é uma prática necessária, mas não consegue compreender
e nem lidar com a totalidade da vida. O pensamento sistêmico é um instrumento de
grande valia para entender a complexidade do mundo natural. Proporcionando
resultados só operacionais, e não são suficientes para entender e alcançar a
totalidade do cotidiano das pessoas.
O pensamento complexo reúne
as visões de mundo linear e sistêmico. Mariotti (2000) explica que “essa
abrangência possibilita a elaboração de saberes e práticas que permitem buscar
novas formas de entender a complexidade dos sistemas naturais e lidar com ela,
o que, é claro, inclui o ser humano e suas culturas.” Dessa maneira, são muito
evidentes as conseqüências práticas dessa visão bem mais extensa.
Morin (2005) define que:
O Princípio Sistêmico ou
Organizacional estabelece as ligações entre as partes e o todo. Ambos se
encontram indissociáveis. Estão envoltos em um processo de interações, no qual
as partes revelam o todo, e vice-versa, mantendo uma vinculação permanente. A
Educação é parte de um todo – o contexto social e histórico, onde atuam
diversas dimensões: a econômica, a cultural, a social, a política, a
psicológica e a biológica, entre outras.
A parte e o todo são
considerados inseparáveis, neste caso, e estão ligadas de modo
multidimensional. Portanto, a Complexidade possui recursos teóricos e
metodológicos para entendê-la como um processo dialógico, que abriga a ordem e
a desordem. Proporciona a reflexão e uma reavaliação do conhecimento, gerando
um autoconhecimento. É uma possibilidade de reformular o processo educacional.
O artigo de Elaine Ferreira
do Vale Borges, intitulado ‘’ Um modelo Caótico de Desenvolvimento Reflexivo da
Profissionalidade de Professores de Línguas’’, é introduzido discutindo que por
um lado existe grande preocupação com o processo interno (profissionalidade) da
formação inicial de professores, e o por outro existe grande cuidado com o
processo externo (profissionalização).
A autora da continuidade ao
texto discutindo sobre esses termos ‘’profissionalidade e profissionalização’’
visto que a grande necessidade de se debater as bases de formações reflexivas
que passem a refletir a evolução docente
como um sistema adaptativo complexo.
Borges apresenta em seu artigo modelos de
ensino e reflexão na formação de professores, para melhor apresentar estes
modelos a autora cita Smyth( 1991) que situa a ‘’ formação via reflexão qual
parte da conscientização do professor da sua própria alienação e das forças
limitam e impulsionam o seu fazer docente’’.
Os modelos de ensino citados
pela autora são: modelo artesanal que seria a imitação de bons profissionais,
modelo da ciência aplicada que resulta na racionalidade técnica, e modelo
reflexivo que é o desenvolvimento de competência profissional por meio de uma
reflexão tanto teórica quanto prática. Estes três grandes modelos de educação
profissional são descritos por Wallace (1991).
Borges cita também o autor
Richards (2010), que enfatiza três concepções de ensino, as quais baseiam a
formação dos professores: ciência- pesquisa; teoria-filosofia; arte-artesanato.
Sendo a primeira derivada de pesquisa, experimentos e investigação empírica; a
segunda baseadas em teorias e a última apoiada na invenção e personalização.
Mais adiante ao discutir as concepções de
linguagens na licenciatura em letras, o autor salienta que tendo em vista a
principal finalidade deste curso é a formação de professores de línguas e
literaturas é preparado pelas concepções de linguagem, sendo que são estas
concepções que constroem o objeto de estudo deste campo.
A autora prossegue
conceituando a linguagem como SAC, argumentando que as três concepções
clássicas de linguagem antecessoras estão baseadas em visões mentalistas,
comportamentalistas ou interacionistas: sendo a primeira como expressão do
pensamento, a segunda como instrumento de comunicação e a terceira como forma
de interação.
Através da teoria do caos,
Borges trabalha os sistemas caóticos e atratores como metáforas na profissionalidade
docente. Segundo a autora um dos possíveis estados de um sistema caótico, em
seu espaço de fases é conhecido como atrator estranho ou atrator caótico.
Para a autora através da metodologia da
investigação é possível mapear alguns dos muitos significados, os quais
constituem a formação inicial reflexiva para se planejar ações interventivas.
Em um dos tópicos
trabalhados pela autora Borges sobre um modelo de desenvolvimento reflexivo da
profissionalidade de professores de línguas na perspectiva de sistema caótico,
entende-se que é construído via diagrama de blocos.
Segundo Palm III um diagrama
de blocos ‘’ é uma forma de representar a dinâmica de um sistema linear ou não
linear em forma gráfica’’. Os blocos representam a relação de entrada e saída de
uma função de transferência.
No entanto através da leitura deste artigo,
entende-se que a autora teve como objetivo discursar sobre um modelo caótico de
desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de professores de línguas com
foco principal nas concepções de linguagem.
O
propósito da teoria da complexidade e transdisciplinaridade é propor uma nova
forma de pensar sobre os problemas da atualidade. Além disso, a teoria da
complexidade e transdisciplinaridade oferecem uma perspectiva de superação do
processo de atomização. Ainda constata-se que a referida teoria encontra-se em
fase de construção, bem como há uma grande quantidade de professores que buscam
se basear em seus conceitos.
Dentro
desta teoria há alguns princípios que são de fundamental importância a ser
discutido neste trabalho. O primeiro é o princípio holográfico. Este tem por
finalidade colocar aos educadores o dilema colocado pelas estruturas
disciplinares e fragmentárias da educação. Dilema esse que obriga os
professores a exercitarem na transdisciplinaridade, termo cunhado por Jean
Piaget, que chegou inclusive a afirmar que, um dia, a interdisciplinaridade
seria superada por transdisciplinaridade (Nicolescu, 2003 apud Santos, 2008).
O
próximo princípio é o princípio da transdisciplinaridade. Este tem o propósito
de potencializar a aprendizagem ao trabalhar com imagens e conceitos que
impulsionam as capacidades emocionais, mentais e corporais dos alunos. Isto ajuda os alunos a se entrosarem na
construção de significados de cada um, ou seja, individualmente. Para Paulo
Freire (1997). “Trabalhar a educação com tal visão supera a mesmice do padrão
educativo, encanta o aprender e resgata o prazer de aventurar-se no mundo das
idéias”. (apud Santos, 2008, p. 76).
Ou seja, os alunos constroem seus próprios conhecimentos.
Entretando,
o príncípio de completaridade dos opostos relata sobre ações que ocorrem no
cotidiano da sociedade, que na maioria das vezes não temos muita certeza das
coisas, vivemos no mundo da incerteza, assim é no ensino, nunca saberemos como
será abordado a educação nos próximos dias, sendo que nos dias atuais, a
educação se mostra abaixo dos princípios
e valores que deveria ser discutida.
Desta
forma, o princípio seguinte relata sobre essa incerteza que por intermédio é
chamado de princípio da incerteza. Neste referido princípio são abordados os
métodos de ensino tradicionais. Este tem por finalidade fazer com que os
professores reflitam e se desfaçam de alguns métodos de ensino tradicional que
utilizavam a alguns anos atrás. Como
forma de mudança na educação, alguns professores que ainda fazem uso destes
referidos métodos possam modificá-los de uma forma com que estimule a
aprendizagem dos alunos.
O
próximo e último princípio é chamado de princípio da autopoiese. Além dos
princípios abordados anteriormente, este também é extremamente importante para
os educadores e para a reflexão da metodologia de ensino. Este princípio, termo
empregado por Maturana e Varela (1995) e segundo estes pesquisadores
“concluíram que todo ser vivo é um sistema autopoiético, ou seja, que se
auto-organiza e autoconstrói” (apud
Santos, 2008, p. 80). A idéia de autopoiese relembra, ao que o autor Paulo
Freire (1997) aborda que “o conhecimento não se transmite, se constrói” (apud Santos, 2008, p. 80).
Concluindo, a complexidade
na educação atual resgata e possibilita uma reflexão para uma nova postura no
ensino e aprendizagem. Primeiro em sua língua materna, para depois facilitar o
aprendizado de uma segunda língua. A complexidade proporciona o pensamento
aberto e facilita a evolução.
REFERÊNCIAS:
BORGES, Elaine Ferreira do Vale. Um modelo caótico de desenvolvimento
reflexivo da profissionalidade de professores de línguas. ReVEL, v. 14, n.
27, 2016 (www.revel. Inf.br).
MARIOTTI, Humberto. As
paixões do ego: complexidade, política e solidariedade. São Paulo: Editora
palas Athena, 2000.
MORIN, Edgar. O
método 6: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005.
RAMOS, Roberto. A
educação e o conhecimento: uma abordagem complexa.Educar, Curitiba, n. 32,
p. 75-86, 2008. Editora UFPR.
SANTOS, A. Complexidade e transdisciplinaridade em
educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Estudos e Pesquisas
Transdisciplinares. Revista Brasileira de Educação, v.13, n. 37, 2008.
EDUCAÇÃO, CONHECIMENTO E
COMPLEXIDADE
Roberta Aparecida Diadio
Diante
de diversas transformações na educação brasileira, algumas positivas e outras
negativas, vamos sistematizar e analisar situações sobre a qual, a educação, o
conhecimento e a complexidade acompanham nos dias atuais. A educação aqui, no
Brasil, parece ter um modo pelo qual segue suas regras, e esse modo vem lá da
antiguidade, em tempos de Colônia até chegar na República.
Mas
afinal, o que é complexidade? Conforme Mariotti (2000), não é uma teoria; complexidade
é prática, é o fato. Ela só pode ser compreendida por quem possui mente aberta,
além de possuir tamanha dimensão. Em outras palavras, é a recusa da
unilateralidade e a percepção de que a realidade em si mesma é contraditória,
ambígua e requer, para sua compreensão, uma abordagem complexa, Boeira (2009).
Ao
longo dos anos, conforme afirma Ramos (2008), o país tem adotado, como regra
geral, a Atualização Histórica, que nada mais é que um processo de
desenvolvimento, que prevê a submissão a um país desenvolvido. Progredir pode
ser rápido, mas traz consigo uma herança sobre um domínio e exploração daqueles
que estão afrente de nós, como exemplo podemos citar os países em
desenvolvimento.
O oposto dessa
Atualização Histórica é a Aceleração Evolutiva, Ribeiro apud Ramos (2008).
Esta, por sua vez, é o progredir gradualmente, conforme a preservação daquilo
que possui o poder nacional, ou seja, da soberania.
Em 1930, com a
industrialização, mudou o conceito de estudar, e não passou mais a ter
significado de formar cidadãos, pelo contrário, o que necessitava era mão de
obra qualificada para trabalhar, então, assim, o estudo e a sua importância
foram deixados de lado. Quatro anos depois houve uma mudança na Educação
perante a Constituição. Estabeleceram um controle e uma sistematização em todas
as instituições, tornando o estudo, obrigatório.
Já em 1964, tentaram
revigorar a Atualização Histórica para se assemelhar aos Estados Unidos. Mas os
norte-americanos mostraram que a forma de ensino deveria se dar pelas leis de
mercado. Em 1985, mantiveram-na.
O presidente na época,
Luís Inácio Lula da Silva, com seu discurso, acabou por conquistar grande massa
da população brasileira, sobretudo, os nordestinos. A falta de instrução pelo
presidente transformou a visão de mudança positiva à mudança negativa, como se
tudo aquilo proposto havia se tornado algo descartável.
Com o passar dos anos, através
de diversos filósofos, nas mais diversas e profundas transformações, as
concepções metodológicas, como afirma Ramos (2008) não mudaram em sua essência
e seu propósito. Nos variados níveis de conhecimento pode haver dois conceitos
básicos que o autor aqui menciona como sendo o Discurso e a Mergulhia, que,
para Barthes (2003) apud Ramos, significa possuir um objetivo de força, de
coerção, de sujeição.
Conforme Ramos (2008),
Descartes propõe o Método Cartesiano, mostrando uma visão de Conhecimento e o
modo de como produzi-lo, através de quatro preceitos. São eles:
·
Algo que se vê acontecer e muito, na
contemporaneidade: pessoas que afirmam fatos sem saber da realidade deles, ou
seja, Descartes propõe que você procure saber antes de afirmar tudo e qualquer
coisa.
·
O princípio da fragmentação: dividir um
problema em algumas partes para que possa resolvê-los de forma mais autêntica e
simples, sem complicações ou acabar por agravar o problema.
·
Colocar ordem e uma condução para seus
pensamentos, deixar aqueles mais complexos por último; assim como aquilo que se
fala, fale primeiro sobre aquilo que tem certeza, deixe sempre para o final
aquilo que não se tem provas.
·
O quarto e último é: fazer de tudo, algo
que não se possa omitir ou, que você possa fazer da omissão algo supérfluo.
Para Ramos (2008),
quando é alcançado um Conhecimento Científico, as disciplinas acabam se
isolando, e o que era organizado é tomado pela desordem.
Nos anos 70 apareceu o Paradigma
da Complexidade. Este, se constitui por sete princípios, cada qual com sua
relevância, conforme a descrição:
·
Princípio Sistêmico ou Organizacional:
une as partes ao todo e mantem um vínculo entre ambos. Como exemplo, na
Educação, há diversos segmentos a serem estudados diante de contexto social,
cultural, histórico, seja na economia, política, biologia, dentre outros.
·
Homologramático: caracterizado assim,
como o Princípio Sistêmico ou Organizacional, pela Metonímia, fazendo uma
observação das partes que se localizam no todo.
·
Anel Retroativo: um evento não é filho
de uma única causa.
·
Anel Recursivo: este, por sua vez,
agencia a relação entre sujeito e objeto, ou criador e criatura.
·
Auto Eco Organização: estuda as relações
entre autonomia e dependência.
·
Dialógico: protagonistas de processos,
tendo o diálogo como um vértice permanente.
·
Reintrodução: diante da Educação, ela
abriga os dialogismos contempladores de sujeitos e objetos.
Todos esses preceitos
básicos estão interligados com a Transdisciplinaridade.
Ramos (2008), coloca um
ponto de extrema importância ao dizer que, o Conhecimento está voltado para a
exterioridade, sendo apenas um ritual projetivo, preocupado com o mercado e com
a reprodução de mão-de-obra, não importando o modo; ou seja, ele apenas se
justifica quando está se relacionando com o autoconhecimento. Diante disso,
podemos afirmar então que Conhecimento e Complexidade andam sempre juntos.
Já o Paradigma da
Complexidade, não existe para dar respostas prontas para tudo, ou para resolver
problemas, mas sim, ele apresenta algumas soluções e alternativas para a
dissolução de certas questões educacionais.
A teoria da
Transdisciplinaridade e da Complexidade surgem diante do avanço do conhecimento
e globalização, próximo ao século XXI. Isso vem mudando o modo e o jeito do ser
humano pensar e idealizar fatos.
A estrutura educacional
atual, não permite estimular que os docentes ensinem de um modo mais efetivo,
pois professores tem cada vez mais deixado aquela indagação na cabeça dos
alunos: “Por que devo e estou estudando isso? Para quê vai me servir?”. Têm-se
deixado de lado a prática escolar com base em teorias fundamentadas e essas
duas teorias acima citadas, propõem um estudo que vai além de pensar somente no
sujeito-objeto, criador e criatura.
Santos (2008) menciona
que essa fragmentação, as vezes, acaba se tornando prejudicial ao separar as
disciplinas umas das outras, porque por exemplo, em relação da matéria
didática, que tem como consequência a descontextualização do agir pedagógico,
passando ela a ser uma disciplina apenas técnica, por meio da qual se aprende o
uso das técnicas didáticas.
Sem dúvidas esse
princípio fez sua parte, foi bom e útil, mas como no mundo há mudança e há
evolução também, é preciso evoluir positivamente a forma de pensar e ensinar.
Para isso, foi criado um outro princípio chamado de holográfico; este, por sua
vez, afirma que a parte não somente está dentro do todo, como o próprio todo
também está dentro das partes (Morin, 1991) apud Santos.
Essa disjunção de separar o todo em partes e vice-versa, tem também seu lado ruim, que causa a inabilidade de criar vínculos entre os conhecimentos obtidos. Mas não se trata somente disso. É possível também, ver o lado positivo, que é o abrir de novas perspectivas àqueles que pesquisam, atuando então, de uma maneira que estabeleça a interligação dinâmica.
Santos (2008) recomenda
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil, 2001), onde os temas
transversais mostram o articular de diversas disciplinas, e transgridem as
fronteiras de conhecimentos científicos de cada uma delas, viabilizando um
olhar mais relevante do conhecimento e da vida; porque, são esses temas que
fazem o resgate de conhecimentos inter-relacionando-os.
Voltando à questão da
complexidade, podemos afirmar que há alguns princípios, benefícios e coisas a
se aprender através do pensamento complexo, conforme Mariotti (2000):
Alguns dos princípios:
·
Tudo está interligado;
·
Toda ação resulta um feedback;
·
Todo feedback resulta novas ações;
·
Temos responsabilidade em tudo o que
influenciamos;
·
Temos influencias diante de tudo o que
nos responsabilizamos;
·
Nada se faz isoladamente;
·
Não há como pensar em um sistema sem
pensar no contexto que o envolve.
Alguns
dos benefícios:
·
Mostra que grande parte das situações se
dão por determinados padrões;
·
Facilita no desenvolvimento de
estratégias de pensamentos;
·
Concede um bom aperfeiçoamento a
comunicações e as relações interpessoais;
·
Melhora no entendimento de situações;
·
Aumenta a capacidade de tomar grandes
decisões.
É
possível aprender por meio deste pensamento, que:
·
Pequenas ações muitas vezes têm grandes
resultados;
·
Nem sempre aprendemos com nossa própria
experiência;
·
Nós só podemos nos autoconhecer através
dos outros;
·
Soluções imediatas nem sempre são as
melhores;
·
Toda ação produz efeitos colaterais;
·
Soluções óbvias na maioria das vezes
causam mais mal do que bem;
·
Imediatismo e inflexibilidade são passos
rumo ao subdesenvolvimento, variando do lado pessoal ao cultural.
Relacionando o
paradigma da complexidade com a educação atual, podemos perceber a necessidade
de reflexão e também, de alunos que reflitam e sejam críticos perante seu
próprio desenvolvimento. Todavia, quando o assunto é aprendizagem de línguas, a
pauta torna-se mais complexa, pelo fato de que, muitas vezes, o que encontramos
é alunos que não são críticos nem em sua língua materna, tampouco em uma
segunda língua, pela qual não entendem.
Referências
BORGES, Elaine Ferreira do Vale. Um modelo caótico de desenvolvimento
reflexivo da profissionalidade de professores de línguas. ReVEL, v. 14, n.
27, 2016 (www.revel. Inf.br).
MARIOTTI, Humberto. As paixões do ego: complexidade,
política e solidariedade. São Paulo: Editora palas Athena, 2000.
MORIN, Edgar. O método 6: ética. Porto Alegre:
Sulina, 2005.
RAMOS, Roberto. A educação e o conhecimento: uma
abordagem complexa.Educar, Curitiba, n. 32, p. 75-86, 2008. Editora UFPR.
SANTOS,
A. Complexidade e transdisciplinaridade
em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Estudos e Pesquisas
Transdisciplinares. Revista Brasileira de Educação, v.13, n. 37, 2008.
Resenha Complexidade
Ana Carolina Batista
Nas
leituras realizadas sobre pensamento complexo e transdisciplinaridade voltados
para a área da educação, percebe-se que são poucas as diferenças que se pode
encontrar quando se fala sobre o assunto. No texto “Um Modelo Caótico de Desenvolvimento Reflexivo da Profissionalidade de
Professores de Línguas” de Elaine
Ferreira do Vale Borges, onde se tratam das diferentes vertentes na
formação de docentes, as práticas de ensino e teorias pedagógicas.
No Brasil, a formação de professores
de línguas se preocupa bastante com o desenvolvimento da profissionalidade na
formação inicial e continuada na visão da perspectiva reflexiva do professor
fundamentadas em modelos de ensino reflexivo. Estudos e reflexões de fenômenos
em linguística aplicada, atualmente sobre a aquisição de uma segunda língua,
demonstram a necessidade de discussões de modelos reflexivos que contemplem o
fenômeno do desenvolvimento do docente como um SAC (sistema adaptativo
complexo), o Estágio Curricular Supervisionado tem esse objetivo na formação
inicial de professores de línguas.
Na formação de professores há varias
metodologias, que tem em vista melhorar a prática dos docentes, principalmente
a perspectiva reflexiva, em harmonia com a pedagogia mais crítica inserida na
filosofia da educação. A formação pela reflexão prove da conscientização do
professor para com sua alienação e forças que limitam e/ou impulsionam em sua
profissão.
A conceituação de linguagem como
SAC, está ligada a três concepções clássicas antecessoras, mentalista,
comportamentalista ou interacionista. A mentalista é individual e tem a língua
como normas, comportamentalista a língua é instrumento de comunicação (código
linguístico) e interacionista a língua é forma de interação na atividade
discursiva, ou seja, língua como ato de fala.
Para que haja um desenvolvimento
reflexivo do professor de línguas necessita-se de etapas, observação, reflexão,
intervenção e avaliação, e subetapas como, produção de planos de aula e
materiais didáticos, análise de livros didáticos, etc; a visão sistêmica da
formação inicial tem em um primeiro momento as concepções clássicas de
linguagem, em segundo as concepções de linguagem como SAC, se inicialmente
emergir a visão de linguagem como SAC, essa será a condição em que se
movimentará o sistema.
O
que a autora sugere é que os professores que estão formando novos professores
incentivem os acadêmicos durante o Estágio Curricular Supervisionado no curso
de Letras, tanto para Literatura quanto para Língua utilizem um modelo de plano
de aula ou sequência didática bem estruturada, que abranja varias questões
teóricas previstas no desenvolvimento da aula, como por exemplo, qual abordagem
será escolhida no ensino da língua, qual estratégia didática, habilidade na
língua, quais as unidades de ensino, etc.
O
artigo apresenta um modelo caótico de desenvolvimento reflexivo da
profissionalidade de professores de língua, com foco nas concepções de
linguagem, que fundamentam e movem a profissionalidade nos cursos de Letras.
Esse modelo retoma práticas de ensino reflexivo que já são consolidadas na
área, assimilando pontos e inserindo questões previstas na teoria geral de
sistemas e na teoria do caos.
No
texto de Akiko Santos “Complexidade e Transdisciplinaridade em
Educação: Cinco Princípios para Resgatar o Elo Perdido”, também pode ser
visto que uma mudança no modo de pensar na educação seria bem vinda, pois ela
esclarece que, a teoria da complexidade e da transdisciplinaridade surgem em
decorrência do avanço do conhecimento, e seus contextos são contrários aos
princípios cartesianos da fragmentação do conhecimento e dicotomias das
dualidades.
A
fragmentação do conhecimento se generaliza e se reproduz no meio social e
educacional, e tem configurado o modo de pensar dos sujeitos. A teoria da
complexidade e transdisciplinaridade ainda estão em processo de construção, mas
já existem educadores que recorrem a seus conceitos.
Os
princípios potenciais foram desenvolvidos por cientistas de diversas áreas para
se tentar um resgate do sentido do conhecimento para a vida, elo que foi
perdido com a fragmentação, os princípios são:
Princípio
holográfico, afirma que a parte não está somente dentro do todo, como o todo
não está dentro das partes, ou seja, relação íntima de interdependência entre
dois termos que se polarizam, esse princípio remete a articulação dos pares
binários;
Princípio
da transdisciplinaridade, distingue vários níveis de realidade, não em apenas
um nível como na lógica clássica, a transdisciplinaridade transgride a lógica
da não-contradição, assim articulando contrários, ex.: sujeito e objeto;
Princípio
da complementaridade dos opostos, se o conhecimento for concebido pelo princípio
holográfico e pela transdisciplinaridade, deve-se olhar também para a
complementaridade dos opostos, que se opõe a dicotomia dos binários, o que nos
leva para a realidade integrada, ou seja, individuo “e” sociedade, etc; pois
dicotomias tendem a exaltar apenas uma das características binárias, que no
ensino gera incompreensões no processo de aprendizagem e incapacidade de
articular diversas dimensões;
Princípio
da incerteza é contrário à dualidade das dicotomias e prioriza a dimensão que
contribui para a construção da ordem, torna-se então uma visão reducionista,
esse princípio é disseminado pela ciência moderna e pelo método de comprovação.
O princípio da incerteza está intimamente ligado à vida dos seres humanos, que
o manipulam para sobreviver. A construção da incerteza gera um sentimento de
normalidade, mas não em termos absolutos;
Princípio
da autopoiese faz repensar a
metodologia de ensino, todo ser vivo é um sistema autopoiético, ou seja, se
auto-organiza e autoconstrói, essa ideia lembra uma proposta de Paulo Freire na
qual O conhecimento não se transmite, se
constrói. Na educação esse conceito usa a metodologia que estimula os
alunos a produzir o próprio conhecimento, e o docente se torna um facilitador
para a aquisição desse conhecimento. Esses princípios estão todos integrados à
teoria da complexidade e transdisciplinaridade.
Nos
dois textos Complexidade e Pensamento
Complexo (texto introdutório) de Humberto
Mariotti e Paradigma e Complexidade:
Breve Introdução de Sérgio Luís
Boeira ambos são bons para se iniciar as leituras sobre pensamento
complexo, pois conseguem de forma objetiva e de certo modo simples mostrar que
esse conceito pode ser aplicado e explicar de que se trata, os benefícios que
pode trazer e o que se pode aprender com ele.
E
por fim no texto A Educação e o
Conhecimento: Uma Abordagem Complexa do Professor Doutor Roberto Ramos, trata da educação
brasileira e as etapas que ela teve durantes os governos do país, e a
insistência em continuar a usar o método cartesiano que promove a fragmentação
do conhecimento, e assim como em todos os textos que foram lidos tenta-se mudar
esse tipo de pensamento para que o ensino seja abordado de maneira mais
complexa e ao mesmo tempo cumpra as necessidades dos alunos e não priorizar um
só tipo de conhecimento, como nas dicotomias já faladas.
Referências:
BORGES,
Elaine Ferreira do Vale. Um Modelo
Caótico de Desenvolvimento Reflexivo da Profissionalidade de Professores de Línguas.
ReVEL, v. 14, n. 27, 2016
[WWW.revel.inf.br].
SANTOS,
Akiko. Complexidade e
Transdisciplinaridade em Educação: Cinco Princípios Para Resgatar o Elo Perdido.
Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 37, jan/abr, 2008.
RAMOS,
Roberto. A Educação e o Conhecimento:
Uma Abordagem Complexa. Educar, Curitiba, n. 32, p. 75-86, 2008. Editora
UFPR.
MARIOTTI,
Humberto. Complexidade e Pensamento
Complexo (Texto Introdutório). São Paulo: Editora Palas Athena, 2000.
BOEIRA,
Sérgio Luís. Paradigma e Complexidade:
Breve Introdução.
Marcel Augusto Gonçalves
Segundo
o texto Complexidade e Pensamento
Complexo de Humberto Mariotti, a complexidade corresponde a multiplicidade,
ao entrelaçamento e à contínua interação da infinidade desses temas e fenômenos
que compõem o mundo natural e que ela só pode ser entendida por um sistema de
pensamento aberto, abrangente e flexível, procurando compreender as mudanças constantes
do real sem negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim
conviver com elas.
Mariotti
relembrando a teoria de Piaget afirma que a experiência humana é um todo
bio-psico-social na qual primeiro percebemos o mundo, em seguida as percepções
geram sentidos e emoções e posteriormente serão elaborados em forma de
pensamentos as quais determinarão o nosso comportamento cotidiano.
A cultura e a educação também são fatores que determinam
as nossas práticas cotidianas segundo o ponto de vista bio-psico-social o
principal problema para a implantação do desenvolvimento sustentado é a
predominância do modelo mental linear em nossa cultura a qual exclui a
complementariedade e a diversidade. A lógica linear, segundo o autor é
responsável pelo imediatismo que dificulta e impede a compreensão de fenômenos
complexos.
Outra crítica feita pelo autor é em relação ao modelo
mental cartesiano que o próprio Mariotti reconhece como indispensável para
resolver os problemas humanos mecânicos, porém não consegue resolver o problema
do desemprego e da exclusão social. O autor afirma que desde os primeiros dias
da escola nosso cérebro começa a ser formado pelo modelo linear que é
responsável por bases ideológicas autoritárias de um pensamento no qual a
exclusão é vista como “lógica” e “natural”. Afinal a diversidade de visões não
impede que cheguemos a acordos sobre o mundo em que vivemos.
O pensamento racional segundo o autor é o resultado de
nossas percepções que só depois são transformadas em pensamentos os quais geram
discursos que são formalizados como conceitos, o racional deriva do emocional,
não o contrário, porém isso não quer dizer que devamos deixar de ser racionais
mas sim buscar uma harmonia entre razão e emoção, pensamento linear e
pensamento sistêmico, essa é a proposta básica do modelo complexo.
A cultura é quem irá definir um modo de viver, a cultura
é definida por discursos que nela predominam, os consensos sociais são
resultados desse discurso que por sua vez são oriundos das redes de
conversação, crescer numa cultura significa, então, adquirir e desenvolver
cidadania. Segundo o texto, uma cultura que não desenvolve cidadania de seus
membros não cresce, permanece subdesenvolvida.
Mariotti, ao criticar o pensamento linear, reconhece
também que o pensamento sistêmico, quando isolado, é também insuficiente para
uma compreensão satisfatória da cidadania. Há a necessidade de complementariedade
entre esses dois modelos mentais, precisando de um modelo de pensamento que lhe
dê a base e a estrutura, esse é o pensamento complexo. Em nossa cultura os
processos de pensamento estão voltados apenas para o modelo linear, em que
apenas um esforço educacional que comece na infância terá possibilidades de
reverter esse quadro.
O autor pontua alguns princípios do pensamento complexo,
o qual defende que: tudo está ligado a tudo, o mundo natural é constituído de
opostos, toda ação implica feedback, todo feedback resulta em novas ações, e
que vivemos em círculos sistêmicos e dinâmicos de feedback, e não em linhas
estáticas de causa-efeito imediato.
Em seguida pontua alguns benefícios do pensamento
complexo, como: facilitação do desenvolvimento de melhores estratégias de
pensamento, permitindo não apenas entender melhor e com mais rapidez as
situações, mas também ter a possibilidade de mudar a forma de pensar que levou
a elas, permite também aperfeiçoar as comunicações e as relações interpessoais,
e também a entender as situações com mais clareza, extensão e profundidade.
Para finalizar o artigo nos são pontuados o que se pode
aprender por meio do pensamento complexo: que pequenas ações podem levar a
grande resultados, nem sempre aprendemos pela experiência, só podemos nos
autoconhecer com ajuda dos outros, que soluções imediatistas podem provocar
problemas ainda maiores do que aqueles que estamos tentando resolver, que
soluções obvias em geral causam mais mal do que bem, e que os melhores
resultados vêm da conversação e do respeito à diversidade de opiniões, não do
dogmatismo e da unidimensionalidade.
Segundo Sérgio Luís Boeira em seu texto Paradigma e Complexidade: Breve Introdução,
complexidade diferentemente do senso comum significa o afastamento de noções
unilaterais e não complicação, é a percepção de que a realidade em si mesma é
contraditória, ambígua e requer, para a sua compreensão, uma abordagem completa.
Boeira nos remete a Thomas Kuhn quando ele concebe a
noção de paradigma entre as ciências naturais, mas viu as ciências sociais como
pré-paradigmáticas. Para Kuhn paradigma é a fase de maturidade de uma
disciplina científica, na fase madura, a ciência se torna normal, distante do
senso comum. Já para Edgar Morin paradigma não remete a uma ciência estável,
segura e indiferente ao senso comum, mas é uma noção que ultrapassa as paredes
das universidades, transcende os grupos de cientistas e remete a um conjunto de
princípios que estão, por assim dizer, além das teorias, atrás e na frente de
toda teorização.
O paradigma não é apenas uma visão de mundo, é também um
pensamento dissimulado, cego, que se oculta em forma de pressupostos e
princípios que limitam a própria racionalidade lógica. Segundo Morin o
paradigma também tem aspectos ideológicos já que tende a fechar-se como sistema
de ideias, a reforçar apenas o que lhe convém e a refutar o que lhe é estranho
e ameaçador.
O paradigma da simplificação, segundo o autor, é
concebido como a síntese dos paradigmas que dominam as ciências e as culturas
desde o século XVII desde o cartesianismo, e que tem determinado uma
multiplicação de disciplinas cientificas incapazes de dialogar entre si. A
complexidade busca revelar o que a simplificação esconde. Então, se a visão
simplificadora se volta unilateralmente para a ordem, a complexidade observa a
relevância da desordem, e vice-versa.
Segundo Roberto Ramos em seu texto A Educação e o Conhecimento: Uma Abordagem Complexa, a educação
brasileira independente de governos e modelos de desenvolvimento tem convivido
um impasse, ela move-se apenas pelo método cartesiano promovendo a
esquizofrenização do conhecimento separando o objeto do sujeito. Ramos retoma o
paradigma da complexidade de Edgar Morin (citado anteriormente) a fim de
repensar o processo educacional como um processo complexo.
O autor nos diz que a educação no Brasil é um apelo nos
discursos políticos, sobretudo em períodos eleitorais. Porém, a prática possui
outra feição. Compromete-se com uma dimensão econômica, cuja hegemonia se
pronuncia pelos apelos do mercado. A Revolução de 1930, de acordo com Ramos,
colocou a burguesia como classe dominante trazendo um projeto nacionalista de
industrialização, que repercutiu em termos de conceitos econômico e
educacionais. A industrialização exigia mão-de-obra, o que resultou numa
reorganização no setor educacional onde era preciso integra-lo nos objetivos
econômicos reproduzindo-os por intermédio da legitimação. Mais do que um
instrumento econômico, a educação passou a representar um relevante componente
ideológico. A Constituição de 1934 estruturou a educação estabelecendo seu
controle centralizado pelo Estado. O autor cita inclusive, o processo
educacional durante o Regime Militar de 1964, no qual ocorreu o resgate da
Atualização Histórica como modelo de desenvolvimento, apegado a uma metrópole
primeiro-mundista, à imagem e à semelhança dos Estados Unidos.
A orfandade de instrução do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, relacionada com o seu êxito de ascensão social, parece ter promovido
uma marcha-ré. Transformou a educação e o investimento intelectual em artigos
supérfluos e descartáveis. Ao longo da história brasileira, a Atualização
Histórica, como hegemônica, e a Aceleração Evolutiva como contra hegemônica
tratam a educação como prioridade básica a fim de formar mão-de-obra para o
mercado, sem priorizar a dimensão subjetiva que agencia a cidadania.
O autor em seguida faz uma crítica ao modelo cartesiano
dizendo que ele agencia o sentido de que a lógica das ciências exatas é
sinônimo da lógica do conhecimento, como uma totalidade. Ramos também critica o
conhecimento científico de que quando alcançado tem características
absolutizantes, tornando a educação esquizofrênica em partes, sendo disciplinas
que se isolam, nas quais o conhecimento, de características racionais e
objetivas, dá conta da ordem, mas não da desordem.
O Paradigma da Complexidade estabelece o conhecimento
sobre as práticas da produção de Conhecimento, é instituído e constituído por
sete Princípios da Complexidade, inscritos e circunscritos na
Transdisciplinaridade reavaliando os diálogos entre conceitos teóricos e
disciplinas. Ramos cita os sete princípios da Complexidade propostos por Morin
em 1999, são eles: O Sistêmico, liga o conhecimento das partes ao conhecimento
do todo. Hologramático, observa que as partes estão no todo e vice-versa. Anel
Retroativo, estipula que a causa age no efeito. Anel Recursivo, estabelece que
o produtor faz o produto e vice-versa Auto-eco-organização, estipula as
possibilidades dialógicas que envolvem a autonomia e a dependência. Dialógico,
sustenta que os opostos, os diferentes, dialoguem na complexidade.
Reintrodução, vê o conhecimento como um processo que envolve o sujeito e o
objeto.
Os sete princípios no âmbito educacional são agenciadores
e agenciados, em sua discursividade, por um nó como o próprio autor cita. É a
Transdisciplinaridade, que elimina, distancias, barreiras, e separações entre
teóricos, disciplinas e conceitos, configurando outra concepção de
conhecimento. Com isso Morin contrapõe a Complexidade ao Paradigma
Simplificador, dentre elas o Cartesianismo, em seu projeto racional, sob a
régua e o compasso, das ciências exatas, sobretudo, a matemática, com as interpelações
racionais e objetivas, os quais são validos para estudar objetos previsíveis.
Não é o caso da Educação.
Segundo Akiko Santos em seu artigo Complexidade e Transdisciplinaridade em Educação: cinco princípios para
resgatar o elo perdido procura como o próprio título sugere resgatar o elo
perdido com a prática de fragmentação do conhecimento analisando a atual
estrutura educacional, a qual ele considera sedimentada com base em princípios
seculares o qual tem levado os docentes a uma prática de ensino insuficiente
para uma compreensão significativa do conhecimento.
De acordo com o autor, a Teoria da Complexidade e
Transdisciplinaridade sugere a superação do modo de pensar dicotômico das
dualidades, proveniente da visão disseminada por Descartes estimulando um modo
de pensar marcado pela articulação pela qual houve a supervalorização da
objetividade e da racionalidade negando a subjetividade, a emoção, a
articulação dos saberes disciplinares e o contexto. Em seguida faz uma crítica
aos princípios que fundamentam as organizações sociais, culturais, educacionais
que se apoiam na recomendação de Descartes, segundo a qual, quando um fenômeno
é complexo se deve dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto
possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolve-la, esse princípio é
chamado de princípio da fragmentação que teve como consequência a prática
pedagógica organizando-se nos moldes dos pares binários, criou-se a subdivisão
do conhecimento em áreas, institutos e departamentos, cada qual delimitado
pelas fronteiras epistemológicas, na prática, as grades curriculares, que
impedem o fluxo de relações existentes entre as disciplinas e as áreas do
conhecimento. Assim como a observação de Petraglia (1995) colocada pelo autor
na qual “Os princípios da disjunção e da simplificação concretizam-se na
educação por meio de uma estrutura disciplinar do conhecimento, (...) o
professor crê que a soma das partes listadas nas grades curriculares significa
o todo do conhecimento”. Norma essa que tem provocado a incapacidade de
estabelecer relações entre os conhecimentos obtidos.
Apesar das críticas, o autor reconhece que o princípio da
fragmentação acumulou conhecimentos o que ocasionou um grande avanço
tecnológico, essa separação, por um lado é positiva pois proporciona o estudo
aprofundado das partes, o que sugere mudanças de conceitos e princípios
apropriadas ao progresso atual da ciência, mas essa fragmentação deve voltar à
contextualização, podendo não ser apenas as somas das partes, mas algo mais.
Akiko
posteriormente faz críticas ao sistema avaliativo no âmbito educacional,
colocando o professor como detentor do conhecimento, e que a avaliação reafirma
uma sociedade classista, elitista e excludente, afirma ainda que a educação nos
moldes tradicionais, com rigidez conceitual e atitudinal não concorda com o
que, no mundo contemporâneo, se exige em relação ao perfil de flexibilidade e
autonomia dos trabalhadores, colocado pelo mercado de trabalho.
Então
nos remete a duas citações de Paulo Freire, sendo elas “ Os alunos constroem conhecimentos” e “Conhecimento não se transmite, se constrói”. O autor então explica
que na prática isso implicaria a uma metodologia que estimule os alunos a
produzir o próprio conhecimento, o que faria com que a função docente passasse
a ser a de facilitar diálogo com os saberes, respeitando-se a diversidade e as
características de cada um dos participantes do processo educativo,
aceitando-se cada aluno como um ser indiviso, com estilo próprio de
aprendizagem e diferentes formas de resolver problemas. Segundo Akiko, o
conhecimento resulta do enredamento dos aspectos do físico, do biológico e do
social, considerando-se inseparáveis e simultâneos. O autor traz à tona
críticas a pedagogia bancária, a qual foi bastante criticada por Paulo Freire,
já supracitado, a qual prevê que as informações repassadas do docente para o
aluno são assimiladas integralmente pelos “bons” alunos, segundo o autor.
Por
fim temos o artigo “Um Modelo Caótico de
Desenvolvimento Reflexivo da Profissionalidade de Professores de Línguas”
escrito por Elaine Ferreira do Vale Borges. Seu artigo trata-se de uma pesquisa
interpretativista-qualitativa, analisando dados coletados entre os alunos do
curso de Letras Português/Inglês da Universidade Estadual de Ponta Grossa
durante os anos de 2014, 2015, 2016, respaldado pela teoria geral dos sistemas
e a teoria do caos. A pesquisa é norteada pela pergunta “Quando você vai
ensinar língua inglesa, preparar suas aulas e elaborar ou selecionar materiais
didáticos qual é a concepção de língua (gem) que permeia suas escolhas/ações?
”. Relembrando as três concepções de linguagem: Como expressão de pensamento,
como instrumento de comunicação e como forma de interação.
Borges
afirma que a formação inicial de professores tem se pautado em diferentes
vertentes, por um lado há a preocupação com a Profissionalidade (processo
interno) sendo um estado de trabalho do professor num continuum restrito-estendido: estando em uma extremidade as
experiências e instituições relacionadas à prática de ensino e na outra uma
visão ampla do que envolve a educação e as teorias pedagógicas, o termo
profissionalização vincula-se ao status dentro da divisão social do trabalho. Por
outro a Profissionalização (Processo externo) como sendo uma demanda por parte
das autoridades nacionais de educação por novas políticas de ensino de ensino e
formação de professores, normas e outras formas de prestação de contas,
inserida na perspectiva da globalização que enxerga a segunda língua (inglês)
como língua de comércio, de comunicação internacional.
A autora afirma que com o advento do paradigma
da complexidade nos estudos e reflexões em Linguística Aplicada, no que se
refere ao ensino e à aquisição de segunda língua, emerge a necessidade da
discussão de modelos de forma reflexiva que reflitam o fenômeno do
desenvolvimento docente como um sistema adaptativo complexo (SAC).
Nos é apresentado no artigo a visão de
diferentes autores, assim como descreve a autora: Smyth (1989) que coloca a
formação via reflexão como parte da conscientização do professor da sua própria
alienação (alienação segundo a autora, no sentido de: encontrar-se na separação
e dissociação entre teoria e prática) e das forças que limitam/impulsionam o
seu fazer docente. E que segundo Zeichner
e Liston (1986): um professor reflexivo é aquele que “avalia as origens,
propósitos e consequências de seu trabalho em todos os níveis”, os níveis que
constituem o processo de ensino reflexivo são: mapear, informar, contestar,
instituir e agir. A partir disso Wallace (1991) descreve três modelos de
educação profissional: Modelo artesanal, Modelo da Ciência Aplicada e Modelo
Reflexivo. Richards (2010) por sua vez apresenta três concepções de ensino que
fundamentam a formação de professores de línguas, são elas: Ciência-Pesquisa,
Teoria-Filosófica e Arte-Artesanato.
Tendo
esses autores como base, Borges citando Abrahão diz ser preciso evidenciar o
conhecimento já consolidado do professor, e que devem ser fornecidas teorias a
serem confrontadas na prática docente em sala de aula.
Trazendo
o foco para a pergunta que norteia sua pesquisa (Quando você vai ensinar língua
inglesa, preparar suas aulas e elaborar ou selecionar materiais didáticos qual
é a concepção de língua (gem) que permeia suas escolhas/ações?) diz ser
necessário fazer-se constantemente essa pergunta como um exercício nos cursos
de formação inicial na licenciatura em letras, principalmente nas disciplinas
de prática de ensino e de estagio curricular supervisionado. Afirmando ser
pungente a importância das concepções de linguagem para o desenvolvimento da
profissionalidade do professor de línguas nos cursos de Licenciatura em Letras,
no qual “Processos de interação humana, juntamente com os processos cognitivos
de domínio-geral, moldam a estrutura e conhecimento da língua”.
Os
resultados de sua pesquisa apontaram que a maioria das respostas dos alunos
entrevistados foi a da concepção de linguagem como forma de interação, porém
isso não resultou em que os planos de aula tivessem como foco a língua com essa
concepção. Segundo a autora isso significa que apesar do curso de licenciatura
em letras enfatizar a concepção de linguagem como interação em suas várias
disciplinas, o foco na gramática continua perpetuando na prática docente.
Para
mudar esse quadro a autora propõe que pode ser implementada discussões, via
seminários reflexivos ao início de cada semestre, no qual os alunos
apresentariam os trabalhos e em seguida fariam as discussões acerca do trabalho
analisando as condições que podem ser inserias no sistema como a concepção de
linguagem como SAC. Assim a autora diz ser importante mapear o processo, pois
assim pode-se fornecer o estado atual provisório em que o sistema se encontra
no panorama de suas possibilidades, e possibilita reconhecer as condições
iniciais do sistema e seus possíveis atratores. Para finalizar o artigo Borges
afirma que com isso há a possibilidade de o formador traçar novas condições
iniciais para a dinamização do sistema que deseja promover a reflexão, com o
intuito de promover esforços na tentativa de mudança de atratores. Sendo assim,
mapear as condições inicias da formação docente e posteriormente informar,
interrogar e avaliar (como pontua Smyth) poderia contribuir para o
desenvolvimento do que Smyth considera ser o professor reflexivo.
Ao
analisarmos os cinco artigos, podemos notar que todos eles em algum ponto fazem
uma crítica ao que chama de “modelo linear” ou “modelo Cartesiano”, o qual
segundo os autores supracitados é tido como modelo objetivo racional
proveniente apenas nas ciências exatas pois deixa de lado o emocional, alguns
autores como Mariotti e Moeira defendem ser preciso encontrar o equilíbrio
entre o objetivo e o subjetivo, papel esse que caberia ao estudo complexo.
Os autores defendem também a importância do diálogo em
sala de aula a fim de promover reflexões tornando as matérias mais
“interessantes”. Fazendo assim uma crítica ao que eles caracterizam como sendo
o “modelo tradicional” que teria como objetivo a formação profissional do aluno
em relação as demandas do mercado de trabalho. E assim como o artigo de Roberto
Ramos critica a atualização histórica defendendo a aceleração evolutiva.
Porém ao fazerem essas críticas e tentarem apresentar as
propostas do modelo complexo acabam utilizando como exemplo o modelo pedagógico
proposto por Paulo Freire, que se analisado podemos notar que não se trata de
um equilíbrio e sim um contraponto ao modelo tradicional. Paulo Freire
criticava o “modelo bancário” no qual segundo ele o professor apenas
depositaria o seu conhecimento no aluno tratando-o como algo vazio. Freire
lança então a pedagogia do oprimido na
qual ele defende a importância de discussões que permeiam as causas sociais
enfrentadas pelo aluno, trazendo então o professor não como alguém que
transmite conhecimento, mas sim um promotor de diálogo, dessa maneira Freire
fala algumas frases defendidas no texto de Akiko Santos quando diz que os
alunos constroem o conhecimento e que este não se transmite, se constrói. Sendo
assim Freire assume que o aluno é detentor do seu próprio conhecimento, logo o
professor tendo seu papel apenas como mediador, o professor perde sua
autoridade em sala de aula e sua função de promover o conhecimento.
A partir destes apontamentos podemos perceber que o modelo
pedagógico de Paulo Freire também não se trata de um equilíbrio pois apenas
substitui o saber objetivo por discussões subjetivas, o conhecimento racional,
pela emoção a fim de mostrar aos alunos os “males da sociedade” tornando o
ensino algo muito mais ideológico que científico, fazendo desse processo o
mesmo “modelo bancário” apenas substituindo a palavra conhecimento por
ideologia.
Freire defendia também discussões baseadas em questões
como aspectos físicos, biológicos e sociais do aluno. Trazendo isso para os
dias atuais na escola são as discussões raciais, de gênero e a disputa de
classes, assim como a teoria de Marx da qual Freire era adepto, e já se mostrou
mais do que ineficiente.
Portanto defender modelos pedagógicos como de Paulo
Freire, apenas por ser contrário ao modelo tradicional, é um grande erro, pois
assim como as teorias de Marx, a pedagogia
do oprimido também tem se mostrado ineficiente. Críticas em relação a esse
modelo pedagógico são muito mais do que críticas ideológicas, o Brasil tem
mostrado um grande declínio no âmbito educacional adotando o “Método Paulo
Freire”. Para provar isso basta analisarmos as colocações do Brasil nos últimos
exames do PISA (Programme for
International Student Assetment), um dos testes mundiais mais importantes,
que avalia o sistema educacional de 67 países, no qual o Brasil vem caindo cada
vez mais, basta analisarmos o exame realizado no exame de 2015, onde o Brasil
aparece na frente apenas dos seguintes países: Peru, Líbano, Tunísia, República
da Macedônia, Kosovo, Argélia e República Dominicana. Países esses que
enfrentam diversos problemas como a guerra, o que os impossibilita de priorizar
a educação, problemas esses não enfrentados no Brasil, mas que divide a
colocação com esses países.
Há também as
críticas em relação a autoridade do professor em sala de aula, e novamente o
coloca apenas como promotor do diálogo, ao olharmos novamente ao exame do PISA
de 2015 vemos nos primeiros lugares países como Singapura, Japão, China,
Estônia e Canadá, países que certamente não questionam a autoridade e rigidez
do professor em sala de aula e a transmissão de seu conhecimento. Isso nos leva
a questionar então se realmente estamos tratando a educação como prioridade
como ouvimos em todo período eleitoral.
Porém para alguns desses autores, pegar como base métodos
aplicados em países desenvolvidos e inseri-los no Brasil é errado, ao invés
disso continuamos a cair no Ranking global de educação e em contrapartida da
formação da cidadania e de alunos capacitados para o mercado de trabalho a fim
de construírem uma vida prospera, estamos à beira da deriva nos importando
apenas com uma guerra ideológica. O equilíbrio proposto pelo método complexo
está longe de ser alcançado no Brasil.
Referências:
MARIOTTI, Humberto. Complexidade e Pensamento Complexo. São
Paulo, 2000.
BOEIRA, Sérgio Luís. Paradigma e Complexo: Breve Introdução.
RAMOS, Roberto. A Educação e o Conhecimento: Uma Abordagem
Complexa. Curitiba: Educar, 2008.
SANTOS, Akiko. Complexidade e Transdisciplinaridade em
Educação em Educação: Cinco Princípios Para Resgatar o elo Perdido. Rio de
Janeiro: Revista Brasileira de Educação, v.13, 2008.
BORGES, Elaine Ferreira
do Vale. Um modelo Caótico de
Desenvolvimento reflexivo da Profissionalidade de Professores de Línguas.
ReVEL, v.14, n.27, 2016.
Organisation
for Economic Co-operation and Development. Resumo de Resultados Nacionais do
PISA 2015. Disponível em: <http://www.oecd.org/pisa/PISA-2015-Brazil-PRT.pdf>
acesso em: 4 de março de 2017.
Resenha Complexidade
Jaqueline Correia
O
artigo de Elaine Ferreira do Vale Borges, intitulado ‘’ Um modelo Caótico de
Desenvolvimento Reflexivo da Profissionalidade de Professores de Línguas’’, é
introduzido discutindo que por um lado existe grande preocupação com o processo
interno (profissionalidade) da formação inicial de professores, e o por outro
existe grande cuidado com o processo externo (profissionalização).
A
autora da continuidade ao texto discutindo sobre esses termos ‘’profissionalidade e profissionalização’’ visto que a grande
necessidade de se debater as bases de formações reflexivas que passem a
refletir a evolução docente como um
sistema adaptativo complexo.
Borges
apresenta em seu artigo modelos de ensino e reflexão na formação de
professores, para melhor apresentar estes modelos a autora cita Smyth ( 1991)
que situa a ‘’ formação via reflexão qual parte da conscientização do professor
da sua própria alienação e das forças limitam e impulsionam o seu fazer
docente’’.
Os
modelos de ensino citados pela autora são: modelo artesanal que seria a
imitação de bons profissionais, modelo da ciência aplicada que resulta na
racionalidade técnica, e modelo reflexivo que é o desenvolvimento de
competência profissional por meio de uma reflexão tanto teórica quanto prática.
Estes três grandes modelos de educação profissional são descritos por Wallace
(1991).
Borges
cita também o autor Richards (2010) que enfatiza três concepções de ensino, as
quais baseiam a formação dos professores: ciência- pesquisa; teoria-filosofia;
arte-artesanato. Sendo a primeira derivada de pesquisa, experimentos e
investigação empírica; a segunda baseadas em teorias e a última apoiada na
invenção e personalização.
Mais
adiante ao discutir as concepções de linguagens na licenciatura em letras,
salienta que tendo em vista a principal finalidade deste curso é a formação de
professores de línguas e literaturas é preparado pelas concepções de linguagem,
sendo que são estas concepções que constroem o objeto de estudo deste campo.
A
autora prossegue conceituando a linguagem como SAC, argumentando que as três
concepções clássicas de linguagem antecessoras estão baseadas em visões
mentalistas, comportamentalistas ou interacionistas: sendo a primeira como
expressão do pensamento, a segunda como instrumento de comunicação e a terceira
como forma de interação.
Através
da teoria do caos Borges trabalha os sistemas caóticos e atratores como
metáforas na profissionalidade docente. Segundo a autora um dos possíveis
estados de um sistema caótico, em seu espaço de fases é conhecido como atrator
estranho ou atrator caótico.
Para
a autora através da metodologia da investigação é possível mapear alguns dos
muitos significados, os quais constituem a formação inicial reflexiva para se
planejar ações interventivas.
Em
um dos tópicos trabalhados pela autora Borges sobre um modelo de
desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de professores de línguas na
perspectiva de sistema caótico, entende-se que é construído via diagrama de
blocos.
Segundo
Palm III um diagrama de blocos ‘’ é uma forma de representar a dinâmica de um
sistema linear ou não linear em forma gráfica’’. Os blocos representam a
relação de entrada e saída de uma função de transferência.
No
entanto através da leitura deste artigo, entende-se que que a autora teve como
objetivo discursar sobre um modelo caótico de desenvolvimento reflexivo da
profissionalidade de professores de línguas com foco principal nas concepções
de linguagem.
O
propósito da teoria da complexidade e transdisciplinaridade é propor uma nova
forma de pensar sobre os problemas da atualidade. Além disso, a teoria da
complexidade e transdisciplinaridade oferecem uma perspectiva de superação do
processo de atomização. Ainda constata-se que a referida teoria encontra-se em
fase de construção, bem como há uma grande quantidade de professores que buscam
se basear em seus conceitos.
Dentro
desta teoria há alguns princípios que são de fundamental importância a ser
discutido neste trabalho. O primeiro é o princípio holográfico. Este tem por
finalidade colocar aos educadores o dilema colocado pelas estruturas
disciplinares e fragmentárias da educação. Dilema esse que obriga os
professores a exercitarem na transdisciplinaridade, termo cunhado por Jean
Piaget, que chegou inclusive a afirmar que, um dia, a interdisciplinaridade seria
superada por transdisciplinaridade (Nicolescu, 2003 apud Santos, 2008).
O
próximo princípio é o princípio da transdisciplinaridade. Este tem o propósito
de potencializar a aprendizagem ao trabalhar com imagens e conceitos que
impulsionam as capacidades emocionais, mentais e corporais dos alunos. Isto ajuda os alunos a se entrosarem na construção
de significados de cada um, ou seja, individualmente. Para Paulo Freire (1997).
“Trabalhar a educação com tal visão supera a mesmice do padrão educativo,
encanta o aprender e resgata o prazer de aventurar-se no mundo das idéias”. (apud Santos, 2008, p. 76). Ou seja, os
alunos constroem seus próprios conhecimentos.
Já
o príncípio de completaridade dos opostos relata sobre ações que ocorrem no
cotidiano da sociedade, que na maioria das vezes não temos muita certeza das
coisas, vivemos no mundo da incerteza, assim é no ensino, nunca saberemos como
será abordado a educação nos próximos dias, sendo que nos dias atuais, a
educação se mostra abaixo dos princípios
e valores que deveria ser discutida. Desta forma, o princípio seguinte
relata sobre essa incerteza que por intermédio é chamado de princípio da
incerteza. Neste referido princípio são abordados os métodos de ensino
tradicionais. Este tem por finalidade fazer com que os professores reflitam e
se desfaçam de alguns métodos de ensino tradicional que utilizavam a alguns
anos atrás. Como forma de mudança na educação,
alguns professores que ainda fazem uso destes referidos métodos possam
modificá-los de uma forma com que estimule a aprendizagem dos alunos.
Já
o próximo e último princípio é chamado de princípio da autopoiese. Além dos
princípios abordados anteriormente, este também é extremamente importante para
os educadores e para a reflexão da metodologia de ensino. Este princípio, termo
empregado por Maturana e Varela (1995) e segundo estes pesquisadores “concluíram
que todo ser vivo é um sistema autopoiético, ou seja, que se auto-organiza e
autoconstrói” (apud Santos, 2008, p.
80). A idéia de autopoiese relembra, ao que o autor Paulo Freire (1997) aborda
que “o conhecimento não se transmite, se constrói” (apud Santos, 2008, p. 80).
Definir complexidade não é
simplesmente afirmar que algo é complicado. Para Boeira (2005) a complexidade
não está inclinada para um só lado, ela recusa a unilateridade e aborda a
realidade contraditória e ambígua de uma maneira complexa. Segundo Morin
(2005), paradigma é uma noção além das paredes das universidades, que “transcende
os grupos de cientistas e remete a um conjunto de princípios que estão, por
assim dizer, além das teorias, atrás e na frente de toda teorização.”
Condicionando as teorias e o
processo de teorizar, não se pode considerar paradigma uma teoria, há dimensões
veladas num paradigma. Já o paradigma da complexidade procede da consciência
dos fracassos do paradigma e da crítica do paradigma da simplificação, reunindo
vários paradigmas menores. Morin traça ao menos sete paradigmas da
complexidade.
Complexidade é um fato, no
mundo natural ele está ligado à multiplicidade, ao vínculo e a interação
ininterrupta da imensidade de sistemas e fenômenos. Os sistemas complexos fazem
parte de nós e vice versa. A complexidade é abrangente, flexível e um sistema
de pensamento aberto – pensamento complexo. Mariotti (2000) define que a
experiência humana não se divide em partes e nem se reduz a uma apenas, ela é
toda bio-psico-social. Primeiro – percebemos o mundo, depois estas percepções
geram sentimentos e emoções. Então se elaboram os pensamentos que determinam o
nosso comportamento no dia a dia.
Para Mariotti “o modelo
mental cartesiano é indispensável para resolver os problemas humanos mecânicos (abordáveis
pelas ciências ditas exatas e pela tecnologia).” Porém é insuficiente para solucionar
problemas humanos em que atuam as emoções e sentimentos (a dimensão
psico-social).
O pensamento complexo
permite entender vários processos e baseia-se na obra de vários autores, e os trabalhos
podem ser aplicados em biologia, sociologia, antropologia social e
desenvolvimento sustentado. Humberto Maturana e Francisco Varela desenvolveram
a biologia da cognição, que é uma das principais linhas, sustentando a realidade
e “é percebida por um dado indivíduo segundo a estrutura de seu organismo num
dado momento. Essa estrutura muda sempre, de acordo com a interação do
organismo com o meio.”
Devemos equilibrar razão e
emoção, porque o racional vem do emocional, não o contrário. E harmonizar o pensamento
linear e o pensamento sistêmico. Esse é o projeto basilar do modelo complexo e
crescer numa cultura significa adquirir e desenvolver cidadania. Baseando-se
apenas no pensamento linear, não se pode produzir um entendimento aceitável da
cidadania e do desenvolvimento sustentado Mas também, o pensamento sistêmico,
quando isolado, é também insuficiente para as mesmos propósitos.
Em relação ao pensamento
linear podemos dizer que é uma prática necessária, mas não consegue compreender
e nem lidar com a totalidade da vida. O pensamento sistêmico é um instrumento de
grande valia para entender a complexidade do mundo natural. Proporcionando
resultados só operacionais, e não são suficientes para entender e alcançar a
totalidade do cotidiano das pessoas.
O pensamento complexo reúne
as visões de mundo linear e sistêmico. Mariotti (2000) explica que “essa
abrangência possibilita a elaboração de saberes e práticas que permitem buscar
novas formas de entender a complexidade dos sistemas naturais e lidar com ela,
o que, é claro, inclui o ser humano e suas culturas.” Dessa maneira, são muito
evidentes as conseqüências práticas dessa visão bem mais extensa.
Morin (2005) define que:
O Princípio Sistêmico ou Organizacional
estabelece as ligações entre as partes e o todo. Ambos se encontram
indissociáveis. Estão envoltos em um processo de interações, no qual as partes
revelam o todo, e vice-versa, mantendo uma vinculação permanente. A Educação é
parte de um todo – o contexto social e histórico, onde atuam diversas
dimensões: a econômica, a cultural, a social, a política, a psicológica e a
biológica, entre outras.
A parte e o todo são
considerados inseparáveis, neste caso, e estão ligadas de modo multidimensional.
Portanto, a Complexidade possui recursos teóricos e metodológicos para entendê-la
como um processo dialógico, que abriga a ordem e a desordem. Proporciona a
reflexão e uma reavaliação do conhecimento, gerando um autoconhecimento. É uma
possibilidade de reformular o processo educacional.
Referencias
BORGES,
Elaine Ferreira do Vale. Um modelo
caótico de desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de professores de
línguas. ReVEL, v. 14, n. 27, 2016 (www.revel. Inf.br).
MARIOTTI,
Humberto. As paixões do ego:
complexidade, política e solidariedade. São Paulo: Editora palas Athena,
2000.
MORIN,
Edgar. O método 6: ética. Porto
Alegre: Sulina. 2005.
RAMOS,
Roberto. A educação e o conhecimento:
uma abordagem complexa. Educar, Curitiba, n. 32, p.75-86, 2008. Editora
UFPR.
SANTOS,
A. Complexidade e
transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido.
Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares.
Revista Brasileira de Educação, v.13, n. 37, 2008.
Resenha Complexidade
Vanderléia Tadra
O propósito da teoria da complexidade e transdisciplinaridade
é propor uma nova forma de pensar sobre os problemas da atualidade. Além disso,
a teoria da complexidade e transdisciplinaridade oferecem uma perspectiva de
superação do processo de atomização. Ainda constata-se que a referida teoria
encontra-se em fase de construção, bem como há uma grande quantidade de
professores que buscam se basear em seus conceitos.
Dentro desta teoria há alguns princípios que são de
fundamental importância a ser discutido neste trabalho. O primeiro é o
princípio holográfico. Este tem por finalidade colocar aos educadores o dilema
colocado pelas estruturas disciplinares e fragmentárias da educação. Dilema
esse que obriga os professores a exercitarem na transdisciplinaridade, termo
cunhado por Jean Piaget, que chegou inclusive a afirmar que, um dia, a
interdisciplinaridade seria superada por transdisciplinaridade (Nicolescu, 2003
apud Santos, 2008).
O próximo princípio é o princípio da
transdisciplinaridade. Este tem o propósito de potencializar a aprendizagem ao
trabalhar com imagens e conceitos que impulsionam as capacidades emocionais,
mentais e corporais dos alunos. Isto
ajuda os alunos a se entrosarem na construção de significados de cada um, ou
seja, individualmente. Para Paulo Freire (1997). “Trabalhar a educação com tal
visão supera a mesmice do padrão educativo, encanta o aprender e resgata o
prazer de aventurar-se no mundo das idéias”. (apud Santos, 2008, p. 76). Ou seja, os alunos constroem seus
próprios conhecimentos.
Já o príncípio de completaridade dos opostos relata
sobre ações que ocorrem no cotidiano da sociedade, que na maioria das vezes não
temos muita certeza das coisas, vivemos no mundo da incerteza, assim é no
ensino, nunca saberemos como será abordado a educação nos próximos dias, sendo
que nos dias atuais, a educação se mostra abaixo dos princípios e valores que deveria ser discutida. Desta
forma, o princípio seguinte relata sobre essa incerteza que por intermédio é
chamado de princípio da incerteza. Neste referido princípio são abordados os
métodos de ensino tradicionais. Este tem por finalidade fazer com que os
professores reflitam e se desfaçam de alguns métodos de ensino tradicional que
utilizavam a alguns anos atrás. Como
forma de mudança na educação, alguns professores que ainda fazem uso destes
referidos métodos possam modificá-los de uma forma com que estimule a
aprendizagem dos alunos.
Já o próximo e último princípio é chamado de princípio
da autopoiese. Além dos princípios abordados anteriormente, este também é
extremamente importante para os educadores e para a reflexão da metodologia de
ensino. Este princípio, termo empregado por Maturana e Varela (1995) e segundo
estes pesquisadores “concluíram que todo ser vivo é um sistema autopoiético, ou
seja, que se auto-organiza e autoconstrói” (apud
Santos, 2008, p. 80). A idéia de autopoiese relembra, ao que o autor Paulo
Freire (1997) aborda que “o conhecimento não se transmite, se constrói” (apud Santos, 2008, p. 80).
Definir
complexidade não é simplesmente afirmar que algo é complicado. Para Boeira
(2005) a complexidade não está inclinada para um só lado, ela recusa a
unilateridade e aborda a realidade contraditória e ambígua de uma maneira
complexa. Segundo Morin (2005), paradigma é uma noção além das paredes das
universidades, que “transcende os grupos de cientistas e remete a um conjunto
de princípios que estão, por assim dizer, além das teorias, atrás e na frente
de toda teorização.”
Condicionando
as teorias e o processo de teorizar, não se pode considerar paradigma uma
teoria, há dimensões veladas num paradigma. Já o paradigma da complexidade
procede da consciência dos fracassos do paradigma e da crítica do paradigma da
simplificação, reunindo vários paradigmas menores. Morin traça ao menos sete
paradigmas da complexidade.
Complexidade
é um fato, no mundo natural ele está ligado à multiplicidade, ao vínculo e a
interação ininterrupta da imensidade de sistemas e fenômenos. Os sistemas
complexos fazem parte de nós e vice versa. A complexidade é abrangente,
flexível e um sistema de pensamento aberto – pensamento complexo. Mariotti
(2000) define que a experiência humana não se divide em partes e nem se reduz a
uma apenas, ela é toda bio-psico-social. Primeiro – percebemos o mundo, depois
estas percepções geram sentimentos e emoções. Então se elaboram os pensamentos
que determinam o nosso comportamento no dia a dia.
Para
Mariotti “o modelo mental cartesiano é indispensável para resolver os problemas
humanos mecânicos (abordáveis pelas ciências ditas exatas e pela tecnologia).”
Porém é insuficiente para solucionar problemas humanos em que atuam as emoções
e sentimentos (a dimensão psico-social). O autor dá um exemplo:
O
raciocínio linear aumenta a produtividade industrial por meio da automação, mas
não consegue resolver o problema do desemprego e da exclusão social por ela
gerados, porque se trata de questões não-lineares. O mundo financeiro é apenas
mecânico, mas o universo da economia é mecânico e humano. (MARIOTTI, Humberto,
2000, p.2)
O
pensamento complexo permite entender vários processos e baseia-se na obra de vários
autores, e os trabalhos podem ser aplicados em biologia, sociologia,
antropologia social e desenvolvimento sustentado. Humberto Maturana e Francisco
Varela desenvolveram a biologia da cognição, que é uma das principais linhas,
sustentando a realidade e “é percebida por um dado indivíduo segundo a
estrutura de seu organismo num dado momento. Essa estrutura muda sempre, de
acordo com a interação do organismo com o meio.”
Devemos
equilibrar razão e emoção, porque o racional vem do emocional, não o contrário.
E harmonizar o pensamento linear e o pensamento sistêmico. Esse é o projeto
basilar do modelo complexo e crescer numa cultura significa adquirir e
desenvolver cidadania. Baseando-se apenas no pensamento linear, não se pode
produzir um entendimento aceitável da cidadania e do desenvolvimento sustentado
Mas também, o pensamento sistêmico, quando isolado, é também insuficiente para
as mesmos propósitos.
Em
relação ao pensamento linear podemos dizer que é uma prática necessária, mas
não consegue compreender e nem lidar com a totalidade da vida. O pensamento
sistêmico é um instrumento de grande valia para entender a complexidade do
mundo natural. Proporcionando resultados só operacionais, e não são suficientes
para entender e alcançar a totalidade do cotidiano das pessoas.
O
pensamento complexo reúne as visões de mundo linear e sistêmico. Mariotti
(2000) explica que “essa abrangência possibilita a elaboração de saberes e
práticas que permitem buscar novas formas de entender a complexidade dos
sistemas naturais e lidar com ela, o que, é claro, inclui o ser humano e suas
culturas.” Dessa maneira, são muito evidentes as conseqüências práticas dessa
visão bem mais extensa.
Morin
(2005) define que:
O
Princípio Sistêmico ou Organizacional estabelece as ligações entre as partes e
o todo. Ambos se encontram indissociáveis. Estão envoltos em um processo de
interações, no qual as partes revelam o todo, e vice-versa, mantendo uma
vinculação permanente. A Educação é parte de um todo – o contexto social e
histórico, onde atuam diversas dimensões: a econômica, a cultural, a social, a
política, a psicológica e a biológica, entre outras.
A
parte e o todo são considerados inseparáveis, neste caso, e estão ligadas de
modo multidimensional. Portanto, a Complexidade possui recursos teóricos e
metodológicos para entendê-la como um processo dialógico, que abriga a ordem e
a desordem. Proporciona a reflexão e uma reavaliação do conhecimento, gerando
um autoconhecimento. É uma possibilidade de reformular o processo educacional.
Em seguida, temos o artigo de Elaine Ferreira do Vale
Borges, intitulado ‘’ Um modelo Caótico de Desenvolvimento Reflexivo da
Profissionalidade de Professores de Línguas’’, é introduzido discutindo que por
um lado existe grande preocupação com o processo interno (profissionalidade) da
formação inicial de professores, e o por outro existe grande cuidado com o
processo externo (profissionalização).
A autora da continuidade ao texto discutindo sobre
esses termos ‘’profissionalidade e
profissionalização’’ visto que a grande necessidade de se debater as bases de
formações reflexivas que passem a refletir
a evolução docente como um sistema adaptativo complexo.
Borges apresenta em seu artigo modelos de ensino e
reflexão na formação de professores, para melhor apresentar estes modelos a
autora cita Smyth( 1991) que situa a ‘’ formação via reflexão qual parte da
conscientização do professor da sua própria alienação e das forças limitam e
impulsionam o seu fazer docente’’.
Os modelos de ensino citados pela autora são: modelo
artesanal que seria a imitação de bons profissionais, modelo da ciência
aplicada que resulta na racionalidade técnica, e modelo reflexivo que é o
desenvolvimento de competência profissional por meio de uma reflexão tanto
teórica quanto prática. Estes três grandes modelos de educação profissional são
descritos por Wallace (1991).
Borges cita também o autor Richards (2010) que
enfatiza três concepções de ensino, as quais baseiam a formação dos
professores: ciência- pesquisa; teoria-filosofia; arte-artesanato. Sendo a
primeira derivada de pesquisa, experimentos e investigação empírica; a segunda
baseadas em teorias e a última apoiada na invenção e personalização.
Mais adiante ao discutir as concepções de linguagens
na licenciatura em letras, salienta que tendo em vista a principal finalidade
deste curso é a formação de professores de línguas e literaturas é preparado
pelas concepções de linguagem, sendo que são estas concepções que constroem o
objeto de estudo deste campo.
A autora prossegue conceituando a linguagem como SAC,
argumentando que as três concepções clássicas de linguagem antecessoras estão
baseadas em visões mentalistas, comportamentalistas ou interacionistas: sendo a
primeira como expressão do pensamento, a segunda como instrumento de comunicação
e a terceira como forma de interação.
Através da teoria do caos Borges trabalha os sistemas
caóticos e atratores como metáforas na profissionalidade docente. Segundo a
autora um dos possíveis estados de um sistema caótico, em seu espaço de fases é
conhecido como atrator estranho ou atrator caótico.
Para a autora através da metodologia da investigação é
possível mapear alguns dos muitos significados, os quais constituem a formação
inicial reflexiva para se planejar ações interventivas.
Em um dos tópicos trabalhados pela autora Borges sobre
um modelo de desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de professores de
línguas na perspectiva de sistema caótico, entende-se que é construído via
diagrama de blocos.
Segundo Palm III um diagrama de blocos ‘’ é uma forma
de representar a dinâmica de um sistema linear ou não linear em forma
gráfica’’. Os blocos representam a relação de entrada e saída
de uma função de transferência.
No entanto através da leitura deste artigo, entende-se
que a autora teve como objetivo discursar sobre um modelo caótico de
desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de professores de línguas com
foco principal nas concepções de linguagem.
Referência
BORGES, Elaine Ferreira do Vale. Um modelo caótico de desenvolvimento reflexivo da profissionalidade de
professores de línguas.ReVEL, v. 14, n. 27, 2016 (www.revel. Inf.br).
MARIOTTI, Humberto. As paixões do ego: complexidade,
política e solidariedade. São Paulo: Editora palas Athena, 2000.
MORIN, Edgar. O método 6: ética. Porto Alegre:
Sulina, 2005.
RAMOS, Roberto. A educação e o conhecimento: uma
abordagem complexa.Educar, Curitiba, n. 32, p. 75-86, 2008. Editora
UFPR.
SANTOS, A. Complexidade e transdisciplinaridade em
educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Laboratório de Estudos e Pesquisas
Transdisciplinares. Revista Brasileira de Educação, v.13, n. 37, 2008.
Teoria
da Complexidade
Tobias Miguel
A complexidade sendo vista “no senso
comum, é sinônimo de complicação”, todavia, com um olhar científico ela é um
fato, um pensamento complexo que é abrangente, múltiplo, aberto, flexível.
O paradigma da complexidade surgiu
com Edgar Morin, a partir da década de 70, e “faz um resgate etimológico.
Recorre ao Latim – ‘Complexus é o que se tece junto’. Especifica, assim, a
tarefa da Complexidade de, ao mesmo tempo, ‘unir (...) e aceitar a ideia da
incerteza’. (...) uma cumplicidade de desconstrução e de criação, de
transformação do todo sobre as partes e das partes sobre o todo. ” (RAMOS,
2008, p.81).
Em seu livro Mariotti (2000)
apresenta que o pensamento complexo é baseado na obra de vários autores e em
diferentes áreas, sendo por ele colocado com “a experiência humana é um todo
bio-psico-social, que não pode ser dividido em partes nem reduzido a nenhuma
delas”. O autor ressalta fatores de tais áreas que fazem analisar de que o
pensamento complexo está certo, pois o sujeito faz parte do seu meio, e o meio
faz parte do sujeito, um compõem o outro.
Em todos os textos é citado o modelo
cartesiano de Descartes, o qual é oriundo das ciências exatas, e esse vem sendo
rebatido por estudiosos da complexidade, embora ele tem a sua contribuição, ele
vem sendo utilizado como base para a afirmação de que a complexidade é
necessária e possível, pensando sempre na melhoria da educação, como diz Ramos
(2008) O método cartesiano, é válido, para estudar objetos de estudo
previsíveis, que mantêm uma certa constância. Não é o caso da Educação. (p.84).
A ideia do pensamento da
complexidade é que ele não seja excludente. No paradigma composto por Morin,
são delineados setes princípios, sendo eles: a) o sistêmico ou organizacional;
b) o hologramático; c) o do anel retroativo; d) o do anel recursivo; e) o da
auto-ecoorganização; f) o do dialógico; g) o da reintrodução daquele que
conhece em todo conhecimento.
O Professor Roberto Ramos em seu
artigo cita que “o mundo mudou, porém o mundo educacional parece se manter
incólume”. (2008, p.76) ou seja, se mantém bem conservado, sem alteração,
todavia são necessárias mudanças para que a educação acompanhe a evolução do
mundo, para que ela não fique estagnada fazendo com que ao invés de
melhorarmos, estando parados, estamos perdendo.
Nossa educação como é citado, fora
pensado em modelos norte-americanos, entretanto, foi pensado em um modelo o
qual a realidade da sociedade brasileira é diferente, sendo assim ele vem sendo
analisado por estudiosos nos diversos governos brasileiros, e sendo constado de
que não vem há uma melhora significativa, pois “a educação é parte de um todo –
o contexto social e histórico, onde atuam diversas dimensões. ” (RAMOS, 2008,
p.82).
A Professora Akiko Santos nos
apresenta a “Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios
para resgatar o elo perdido” (2008), texto o qual fora apresentado no I
Encontro Brasileiro de Estudos da Complexidade (EBEC), que aconteceu em
Curitiba em 2005.
No presente texto, a professora nos
apresenta sobre o princípio da fragmentação, esse que é pensado da forma em que
cada dificuldade deve ser dividida em quantas parcelas foram possíveis e
necessárias para melhor resolvê-la, ocasionando sim um acumulo de
conhecimentos.
No
entanto, nesse pensamento a educação fora subdivida e em conhecimentos por
áreas, e essa divisão originou o que hoje vemos como fronteiras epistemológicas
delimitadas, tornando o ensino, de certa forma, não tão benéfico, pois os educadores
preocupam-se com sua área fazendo com que o aluno deva decorar fórmulas e
conteúdos, mas ele não está vendo, percebendo articulação entre esses
conhecimentos, e é esse modo de pensar que a autora instiga que devemos
estimular em nossos alunos e também em nossos professores.
A autora apresenta os princípios,
sendo eles o holográfico “esse princípio afirma que a parte não somente está
dentro do todo, como o próprio todo também está dentro das partes” (Morin,
1991); o princípio da complementaridade dos opostos que “ao articular os
opostos, o princípio opõe-se à dicotomia dos binários, remetendo o olhar para o
nível de realidade integrada” (p.77); o princípio da incerteza que “a certeza
construída terá sempre uma janela aberta à incerteza”(p.79) pois “o conhecimento
não está estagnado, ele é dinâmico.” (p.79); o princípio da autopoiese, que o
ser vivo se auto-organiza, autoconstrói, termo de autofazer-se; e o princípio
da transdisciplinaridade, sendo esse o mais interessante ao meu ver.
O princípio da transdisciplinaridade
abre a possibilidade de um processo sem fim, de uma nova realidade, de um
“sentido que não se tem uma Verdade última e absoluta” (p.75), ele “propõe-se a
transcender a lógica clássica, a lógica ‘sim’ ou ‘não’, do ‘é’ ou ‘não é’.
(p.74), a ideia de que todos os conhecimentos de todas as ciências têm sua
importância, em que “os conhecimentos disciplinares e transdisciplinares não se
antagonizam, mas se completam. (p.75)
Como Ramos (2008), concluo que,
pensar em educação, com olhar cartesiano, é se cegar. O paradigma da
complexidade, não tem a intenção de resolver tudo, porém faz ver que a educação
tem seu contexto amplo, e que devemos pensa-la como um processo plural,
dialógico, e como Morin, temos de ver o conhecimento como abrigo de certezas e
incertezas.
O
Contraste entre as Teorias Propostas pela Base Nacional Comum Curricular e a
Metodologia Pós-Método
A área de linguagens, descrita na
“Base Nacional Comum Curricular” (BNCC) enfatiza que, é tarefa da Educação
Básica desenvolver a escrita para que os alunos tenham capacidade de ler e
produzir textos dentro das mais variadas esferas de comunicação; deve-se,
também, propiciar ao aluno a oportunidade de estar imerso em manifestações
artísticas, literárias e corporais com relação ao ensino de língua.
O ensino na área de linguagens deve
estar relacionado às áreas da Arte e da Educação Física, assim como aos
conhecimentos cotidianos, para que ajude no desenvolvimento do aluno. Na
Educação Básica, a BNCC propõe que o ensino na área das linguagens possibilite
que o aluno interaja com praticas de linguagem; reconheça as condições de
produção; reflita sobre os usos da linguagem e os seus efeitos de sentido;
compreenda a diversidade linguística; interaja através da linguagem e reconheça
a dimensão estética e poética da linguagem.
Nos primeiros anos do Ensino
Fundamental devem ser levadas em conta as culturas infantis, as tradições orais
e as situações lúdicas de aprendizagem. Nestes anos o desenvolvimento das
linguagens faz com que a criança possa utilizar situações e contextos do seu
dia-a-dia para concretizar o aprendizado da linguagem. Levando em conta que
nesses anos iniciais do Ensino Fundamental a criança já pratica a escrita, a
oralidade e outras formas e características do texto, o professor deve
desenvolver esta pratica em situações e espaços inovadores aos alunos.
Já nos anos finais do Ensino
Fundamental os alunos encaram transições pessoais e escolares, e a área das
linguagens deve acompanhar essa transição , trazendo para a sala de aula as
culturas juvenis e o contato com a literatura e as artes, assim como a reflexão
crítica sobre a escrita, de modo que o aluno desenvolva uma maior fluência e
compreensão da linguagem através da imersão.
Durante p Ensino Fundamental a área
de linguagens almeja que o aluno domine a fala, a leitura e a escrita; reflita
sobre as linguagens artísticas; reconheça e valorize manifestações culturais,
línguas e culturas estrangeiras, e características individuais e sociais.
No Ensino Médio, etapa conclusiva de
escolarização da Educação Básica, a área de linguagens deve proporcionar
conhecimentos e saberes que transformem o aluno em um ser critico, preparado
para o trabalho e para dar continuidade aos estudos, e integrado com a cultura
e com as tecnologias do mundo contemporâneo. Nesta etapa, a área de linguagens
deve relacionar o conhecimento e a realidade dos alunos com o ensino, adensando
as reflexões linguísticas e a teorização, de modo que a teorização Lee os
alunos a uma maior compreensão dos modos de expressão.
Os objetivos gerais da área de
linguagens no Ensino Médio são que o aluno tenha a capacidade de interagir em
debates como um ser critico e social; explorar e refletir sobre as diversidades
da linguagem; utilizar a linguagem literária e critica de modos inovadores em
diversas esferas sociais; refletir sobre a diversidade humana; produzir
conhecimento e explorar a linguagem no mundo digital.
Quanto ao componente curricular da
Língua Estrangeira Moderna, a BNCC diz que se deve garantir ao aluno o direito
de conhecimento através do uso da pratica linguística, oferecendo condições e
conhecimentos que relacionem os textos na língua em estudo com situações
cotidianas dos alunos, e que os façam interagir com outras culturas e
nacionalidades.
Para que este componente curricular
seja efetivo, ele deve combater a visão tecnicista da língua e priorizar uma
abordagem discursiva. Este componente deve motivar o respeito a diferentes
culturas, utilizando textos para colocar o aluno de frente com as diversidades,
ampliando os seus conhecimentos e possibilitando a inserção social.
Durante o Ensino Fundamental
procura-se romper estereótipos e
possibilitar a diversidade através da criatividade e do pensamento lúdico,
assim como o conhecimento de diferentes línguas. Já no Ensino Médio deve-se
compreender a constituição do sujeito através da linguagem e das praticas
sociais.
Por fim, os objetivos de
aprendizagem na área das linguagens procuram promover a interação com textos na
língua estrangeira (através da produção oral, escrita e da leitura); a
compreensão de textos orais e escritos, e dos gêneros textuais; utilizar
recursos linguísticos discursivos; valorizar o plurilinguismo e as variações
linguísticas; e refletir quanto a própria aprendizagem.
A
Metodologia Pós-Método, desenvolvida por B. Kumaravadivelu, no livro
“Understanging Language Teaching” (2006), inicia-se com a diferenciação entre
método e metodologia, sendo o método o conhecimento das teorias da linguagem em
si, do aprendizado da linguagem e do ensino da linguagem; enquanto a
metodologia é o que o professor faz em sala de aula para maximizar o
aprendizado.
Levando
em conta que os métodos de ensino nada mais são do que o conhecimento teórico,
surgiu a necessidade de algo mais prático, por isso Kumaravadivelu desenvolveu
a Condição do Pós-Método, que reestrutura a relação entre teoria e prática.
A
pedagogia do pós-método pode ser vista como um sistema tridimensional, que
abrange os seguintes parâmetros pedagógicos: a particularidade, a praticidade e
a possibilidade.
O
parâmetro da particularidade diz que a pedagogia do pós-método deve ser válida
para um determinado grupo de professores, que estão lecionando para um
determinado grupo de alunos, que possuem um determinado objetivo dentro de um
determinado contexto educacional e sociocultural, ou seja, o parâmetro da
particularidade dá ênfase as exigências locais e experiências de vida, e
rejeita métodos com objetivos fixos que podem ser aplicados em qualquer
situação.
O
parâmetro da praticidade abrange a relação entre a teoria e a pratica, e a
capacidade de monitoramento do professor quanto a efetividade do seu ensino.
Este parâmetro esta focado na ação, reflexão, intuição e senso de viabilidade
do professor em unir teoria e prática de modo efetivo através das suas
experiências em sala.
Já
o parâmetro da possibilidade está relacionado com a identidade individual do
professor e do aluno, levando em conta os contextos sociais, econômicos e
políticos que estão inseridos, assim como a ideologia linguística do aluno. Este
parâmetro mostra a importância da linguagem na construção da subjetividade, e,
no contexto de ensino de L2, ele une a linguagem e a cultura.
Os
parâmetros da particularidade, praticidade e possibilidade funcionam como
princípios operadores, que se manifestam através dos indicadores pedagógicos;
estes indicadores se referem as funções e características dos participantes nas
operações de ensino-aprendizagem de L2 através da pedagogia do pós-método.
A
pedagogia do pós-método tenta atrais o interesse e investimento do aluno ao dar
a ele um papel importante nas tomadas de decisões pedagógicas, e tratando o
aluno como um participante ativo e autônomo, desenvolvendo neles a capacidade
de assumir o controle do seu aprendizado, determinando os seus objetivos, definindo
conteúdos, selecionando técnicas, e monitorando e avaliando a sua aquisição.
Alunos
geralmente utilizam inúmeras estratégias metacognitivas, cognitivas, sociais e
afetivas, para alcançar seus objetivos de aprendizado. Existem muitas maneiras
individuais de aprender uma língua, e alunos diferentes criam estratégias
diferentes, porém todas elas dão ao aluno um senso de responsabilidade quanto
ao seu próprio aprendizado. Esta autonomia ajuda o aluno a se tornar um aluno
efetivo e pensador critico, assim como desenvolve a competência intelectual, a
consciência social, e a atitude mental necessária para avaliar oportunidades e
superar desafios dentro e fora da sala de aula.
Para
o pós-método o professor deve ser autônomo, e saber utilizar o conhecimento e o
seu potencial para saber como ensinar e como ser autônomo no seu trabalho. O
pós-método dá ao professor a capacidade de analisar e avaliar o seu ensino, de
modificar a sua metodologia e monitorar os efeitos desta mudança, ou seja, a
capacidade de desenvolver e modificar os seus métodos para alcançar um
ensino-aprendizado proveitoso utilizando os seus conhecimentos práticos.
O
formador de professores pode usar a metodologia pós-método para sugerir os
melhores métodos para ensinar, o comportamento mais apropriado para ensinar, e
criar condições para que o futuro professor adquira autoridade e autonomia e
dar forma as suas próprias experiências pedagógicas. Para que a formação de
professores seja mais eficiente ela deveria passar por uma reestruturação, dando
mais espaço ao pós-método.
Enquanto
a BNCC tenta passar métodos de ensino que se encaixam em qualquer situação,
Kumaravadivelu apresenta o pós-método como uma solução para um
ensino-aprendizagem de língua muito mais efetiva. Em um país como o Brasil é impossível
tentar impor uma base comum para o ensino, a diversidade sociocultural dos
estados faz com que essa imposição leve a um ensino básico, quase medíocre, que
acaba impossibilitando que alunos de todo o país tenham uma educação exatamente
igual. Embora a BNCC tente impor um ensino multicultural sabemos, através da
prática em sala de aula, que para a aula ser proveitosa para os alunos e
professores, é necessário uma abordagem que leve em conta a situação regional,
social e cultural em que os alunos estão inseridos. Deste modo, acredito que a
metodologia do Pós-Método proposta por Kumaravadivelu seja a mais ideal e mais
proveitosa para o ensino de línguas.
Referências
B. Kumaravadivelu. Understanding
Language Teaching: From Method To Postmethod. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum,
2006.
BRASIL.
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – Documento preliminar.
MEC. Brasília, DF, 2015.
Pensamento complexo na educação
Luiz Eduardo Perek
É
natural que tudo sofra alterações ao passar do tempo, a educação se transforma
a cada ano, estudos que defendem uma melhor maneira de ensino são desenvolvidos
com a finalidade de modificar a estrutura de educação implementada anos atrás
nas escolas nacionais.
Com
a Revolução de 1930 a educação brasileira sofre mudanças, com a
industrialização foi necessária essa mudança, o ensino passou a ser mais
orientado de forma linear, a educação era uma alternativa de modelar a
sociedade. Em 1964 e o Golpe Militar a estrutura educacional nacional foi
espelhada na forma de ensino dos Estados Unidos, era uma educação voltada para
o mercado de trabalho, os professores e alunos eram orientados de forma
incomplexa, objetivando o mercado de trabalho, o ensino era a base de uma
sociedade para mão de obra e empresarial.
Porém,
estudos recentes defendem a ideia de uma abordagem mais complexa e social,
afirmam que o ambiente de sala de aula deve fugir do exato e seguro, como em
uma aula de matemática, o ser humano tem a autonomia de fazer suas próprias
escolhas, opinar e interagir com os demais, estudos da área apontam as teorias
de Edgar Morin como base para um ensino pautado a complexidade e expressão de
pensamentos.
Morin
defende princípios direcionados a transdisciplinaridade, ao rompimento de
barreiras entre disciplinas, tudo que envolve a educação expõe diferentes e
diversos teóricos e ideias, com base nesse pensamento o ensino deve percorrer
por enumeras áreas de conhecimento, assim construindo e desenvolvendo uma aprendizagem
não linear, com expressões e opiniões múltiplas por parte do professor e também
do aluno, para ao “fim” chegar a um pensamento mais completo e complexo.
Uma
possível definição de complexidade seria a ideia de um pensamento aberto,
alimentar a consciência com novas ideias, aceitar diferentes opiniões e visões
de mundo, saber viver com a incerteza, entendê-las para assim saber conviver
com elas, nunca considerar algo uma verdade absoluta. Essa é a alternativa de
ensino que os estudos da área defendem, é natural que todos tenhamos uma
ideologia, isso acontece devido aos aspectos sócio- históricos, o indivíduo
cresce de acordo com a sociedade a sua volta, ponto que deve ser considerado
para aprimorar a maneira de ensino do professor. O sujeito deve ser considerado
em conjunto com o ambiente e com seu conhecimento prévio, opiniões individuais
devem ser consideradas e novas ideias expostas.
São
enumeras as visões de mundo presentes na educação, isso não quer dizer que não
exista um consenso entre elas, caso contrário não há um pensamento complexo, a
complexidade auxilia o indivíduo a desenvolver a cidadania, com isso a
sociedade evolui em conjunto com o sujeito e o ambiente, o mundo ao nosso redor
aprimora-se e desenvolve-se. A ciência é um exemplo disto, novas descobertas
são feitas a cada ano, devido ao interesse do indivíduo na busca de novo
conhecimento, o ser humano preso em um pensamento que ele considera concreto,
imutável e verdadeiro não evolui.
É
preciso considerar a realidade contraditória e ambígua, e levar em consideração
a complexidade, se opõe ao senso comum, o pensamento complexo necessita estar
sempre em movimento e apresentar alterações, depende da criatividade e
interesse por parte do indivíduo, sempre surgiram surpresas novas, a complexidade
sempre estará em um ciclo.
Porém
não é simples construir um ambiente de ensino estruturado no pensamento
complexo, isso pode se tornar um desafio para os educadores, tomando como base
os professores de línguas, durante a graduação são diversos os assuntos
abordados durante o curso, todavia, o conhecimento precisa se encaixar com as reivindicações
das autoridades do estado.
Levando
em consideração essas exigências o conhecimento prévio do educador deve ser
modificado de acordo com as práticas pedagógicas, tomando como base o inglês, o
ensino da língua é voltado para o mercado de trabalho e comunicação
internacional, pode ser uma grande dificuldade para o professor de línguas
inciar sua formação como professor e com ela aplicar um ensino complexo em sala
de aula, por conta disto estudos são desenvolvidos e discutidos para uma melhor
orientação profissional e aprimorar o ensino brasileiro.
A
princípio o educador precisa diferenciar teoria da prática, avaliar suas
intenções, os propósitos das mesmas e qual será os objetivos a serem
alcançados, o processo é desenvolvido em receber conhecimento, desenvolvê-lo,
experimentá-lo e repetir o ciclo, com a finalidade de conseguir a competência
profissional, processo que pode ser desenvolvido através de pesquisa e
atividades empíricas, baseado em teorias ou até mesmo conhecimento já
consolidado pelo professor, desenvolvendo e aprimorando tais bases estruturais
o trabalho deve ser avaliado e analisado para ao fim experimentar o
conhecimento.
É
de extrema importância a conscientização do educador sobre as teorias bases a
serem utilizadas, é como uma concordância com os teóricos, é necessário um
profissional crítico, que sabe sobre a natureza da linguagem e dos estudos
empregados e como atuar e lidar com as ideias desenvolvidas e estudadas, o
domínio da linguagem molda a estrutura de ensino.
Desse
modo, com diversos teóricos formas de desenvolvimento e aplicação de ensino, a
linguagem é considerada complexa, abrange diversas áreas e disciplinas, a
língua age em conjunto com diversos pontos, como expressão de pensamento,
instrumento de comunicação e interação social, ela se adapta de acordo com o
indivíduo, ambiente e sociedade, um sistema adaptativo complexo (SAC).
O
esclarecimento desse sistema complexo deve ser exposto durante a graduação do
profissional, o desenvolvimento de uma estrutura de ensino deve ser apresentado
em dois pontos, a observação, reflexão e avaliação, que resultará na escolha
dos materiais, documentos e necessidades dos alunos. Toda a estrutura a ser
trabalhada está voltada a ciclos de ensino, a princípio é necessário conhecer o
ambiente de trabalho, após isso desvendar o conhecimento dos alunos com base
nas teorias trabalhadas pelo educador e assim construir o plano de ensino,
objetivar as metas e trabalhar em conjunto com as ideias e opiniões dos alunos,
para ao fim coletar tudo que foi passado e continuar o ciclo, desenvolvendo
novas teorias e planos de aulas, com base no que já foi estruturado
anteriormente.
Muitas
vezes o uso linear de ensino impede as interações entre as disciplinas, a
estrutura educacional deve ser encarada como uma rede de relações, sujeito,
ambiente e comunidade, a soma de todas essas características é fundamental para
o ensino complexo, nada deve ser fragmentado, toda área se encontra dentro de
um todo, que proporciona mais conhecimento quando em conjunto.
Estudiosos
da área consideram um erro já durante a graduação de profissionais a
fragmentação de disciplinas, levando em consideração que certos conteúdos são
trabalhados de forma isolada dos demais, é uma tentativa de priorizar
determinado conteúdo, com a falsa noção de que o aluno compreenderá melhor o
conteúdo exposto, mas, na verdade, isso rompe com a ideia de complexidade e
transdisciplinaridade. A ligação entre diferentes disciplinas traz a ideia de
“conhecimento concebido como uma rede de conexões”, distintas áreas de
conhecimento proporcionam uma diferente visão, tudo é como diferentes níveis de
realidade, e tudo se complementa.
É
necessário ter consciência que o conhecimento é histórico, se modifica e é
provisório, o indivíduo deve mudar sua postura e forma de pensar, ele deve
evoluir com o conhecimento, assim ocorre o rompimento da padronização do
ensino, o sujeito se torna parte de um todo ao seu redor, estudos apontam que o
ser humano possui tendências de permanecer no mesmo, para ele aquilo que é
considerado certeza traz mais segurança para expressões de ideias e
fundamentações de opiniões, mas a mudança se faz necessária, caso contrário o
indivíduo se degenera não evolui com os demais.
Todos
são dependentes dos sistemas em que vivem, alterações no dia a dia e nos
pensamentos proporciona uma maior criatividade e renovação, tudo que não
acompanha a natureza da evolução acaba se perdendo no passado e caminham para
ao esclerose, e acaba sendo excluído do meio social. Em relação ao ensino, o
professor considerado normal é aquele que respeita as normas e continua
previsível, e os alunos já estão acostumados com esse comportamento, mas o
complexo e inovador surpreende os estudantes, inova o conhecimento tanto por
parte dos alunos bem como o do educador.
Dessa
maneira, o local de aprendizagem se transforma em ambiente de comunicação,
troca de ideias e surgimento de novos conhecimentos “aprendizagem é um processo
progressivo em anel retroativo-recursivo”.
Foram
trabalhados como base cinco artigos de diferentes escritores para desenvolver o assunto abordado, em geral
todos com a mesma abordagem e temática, a complexidade do pensamento e o ensino
em cima disto. Porém apresentam focos diferentes, um deles voltado em
esclarecer o desenvolvimento da estrutura educacional, outros dois com base em
explicar o conceito de complexidade, e os dois restantes são relacionados em
como aplicar essa maneira de conhecimento no ensino.
Em
relação aos que focam no ensino, “Um modelo caótico de desenvolvimento
reflexivo da profissionalidade de professores de línguas” e “Complexidade
e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo
perdido”, foram mais extensos que os demais por apresentar um conteúdo mais
aprofundado na questão do ensino, com gráficos, bases teóricas empíricas e
exposição de ideias, ambos apresentam diversas formas de ensino, todas com a
finalidade no pensamento complexo, as alternativas esclarecidas são essenciais
para futuros professores, a forma de lidar com o ambiente escolar e exposto do
início ao fim e de diversas formas. O uso de gráficos até certo ponto chega a
ser excessivo mas necessário para a ilustração e orientação dos leitores.
Os
artigos direcionados em esclarecer do que se trata a complexidade, “Complexidade
e pensamento complexo” e “Paradigma e complexidade: breve introdução”
são breves e precisos, e servem mesmo como uma introdução ao assunto, ambos
trabalham para servirem como textos bases para uma futura leitura mais
aprofundada de outros documentos. Ao final o texto, “A educação e o
conhecimento: uma abordagem complexa”, apresenta a princípio um conteúdo mais
voltado em esclarecer o desenvolvimento do ensino através da política no território
brasileiro, e de certa forma perde um pouco o foco em relação a complexidade,
mas isso se altera ao decorrer do artigo, que aborda de uma forma mais geral
ambos assuntos, complexidade e ensino.
REFERÊNCIAS
RAMOS,
R. A educação e o conhecimento: uma abordagem complexa. Curitiba: UFPR,
2008
MARIOTTI,
Humberto. Complexidade e pensamento complexo. IN. As paixões do ego:
complexidade, política e solidariedade. São Paulo: Palas Athena, 2000.
SANTOS,
Akiko. Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios
para resgatar o elo perdido. Revista Brasileira de Educação, 2008.
BORGES,
Elaine Ferreira do Vale. Um modelo caótico de desenvolvimento reflexivo da
profissionalidade de professores de línguas. ReVEL, 2016
BOEIRA,
Sérgio Luís. Paradigma e complexidade: breve introdução.
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