Houve um tempo em que saber inglês era um
diferencial para a carreira profissional. Hoje, em especial na área de TI, o
conhecimento do idioma é fundamental, já que grande parte das atividades
relacionadas envolve seu uso. Essa necessidade básica advém da globalização do
mercado, que atualmente conta com multinacionais que elegem o inglês como
língua 'universal' dentro da empresa. "Em multinacionais, muitos dos
líderes e gestores são estrangeiros, fazendo com que as reuniões e comunicações
internas sejam realizadas em inglês, mesmo que você utilize a língua local para
conversar com seus colegas de mesmo nível hierárquico", explica Bruno
Franciscon Mazzotti, recém-formado em Ciência da Computação pela Universidade
de São Paulo (USP), campus São Carlos.
Em geral, grande parte dos
processos seletivos para a área de TI requer inglês, ainda que em nível
'instrumental' – quando não se tem o domínio do idioma, mas é possível
compreender assuntos, porém sem muitos detalhes – para compreender manuais,
textos técnicos e para utilizar programas desenvolvidos nessa língua. Nas
multinacionais, alguns dos processos seletivos costumam ter uma etapa em
inglês, como forma de avaliar a desenvoltura do candidato no idioma. "São
provas e exercícios realizados em inglês, e a desenvoltura no idioma é
certamente um destaque", conta Guilherme Junqueira, Analista de Desempenho
da Inmetrics.
Logicamente, o conhecimento do
inglês não é algo determinante na carreira de um profissional talentoso.
"Muita gente que só fala português consegue se destacar nas empresas,
principalmente se forem empreendedores. Estes não 'precisam' falar uma língua
estrangeira porque, no momento em que precisarem, podem contratar alguém que o
faça", pontua Bruno Mendes dos Santos, produtor de games da Tectoy
Digital. Contudo, o idioma está tão infiltrado na área de TI que é complicado
conseguir atravessar a formação acadêmica sem ao menos ter de lidar com o
idioma de maneira 'instrumental'. "Eu diria que 99,9% da documentação de
TI está disponível em inglês. Se não houver fluência, é necessário ao menos
compreender o inglês instrumental. Quem ocupa cargos gerenciais, precisa do
inglês para dar conta do relacionamento com clientes e fornecedores
internacionais", lembra dos Santos.
Para os jovens graduandos da área,
o básico pode ser aceitável, mas professores e profissionais do ramo destacam
que apenas o conhecimento dos jargões técnicos pode não ser suficiente no dia a
dia dentro das empresas. "Com a globalização da economia e a ocorrência
cada vez mais frequente de projetos que envolvem clientes em outros países, o
nível de conhecimento de inglês exigido dos profissionais de TI vem aumentando
gradativamente", lembra Roberto Carlos Mayer, presidente de Assespro São
Paulo e diretor da MBI. “O conhecimento técnico somente não é suficiente para
que o profissional lide bem com a demanda do trabalho”.
De modo geral, os jovens conhecem os termos
técnicos e jargões da área. “O que lhes prejudica é a pronúncia inadequada
desses termos, o que pode causar sérios ruídos de comunicação”, alerta Lizika
Goldchleger, gerente acadêmica da escola de idiomas Cultura Inglesa. "O
cotidiano de um profissional jovem da área de TI em uma multinacional envolve
interagir intensamente em inglês com clientes e colegas de várias partes do
mundo. O que falta, normalmente, é a fluência e a assertividade na hora de
explicar um problema, dar uma solução com clareza e objetividade, dar e pedir
esclarecimentos, concordar e/ou discordar de forma assertiva, porém educada, e
saber lidar com situações de alto grau de urgência de forma calma e
precisa", esclarece ela.
Um jeito de dar uma 'arrancada'
no inglês é fazer um curso de imersão no exterior. A grande vantagem é que ao
passar uma temporada em um país anglófono, o esforço para falar em inglês é
diário, já que praticamente todas as suas atividades precisam ser realizadas no
idioma. Mas se você não tem essa possibilidade, não se preocupe: cursos
nacionais podem te dar o mesmo traquejo que uma viagem internacional. A dica é
se dedicar e se esforçar. "Não são exceções os casos de alunos brasileiros
que nunca viajaram [para fora do país] e que têm extremo sucesso e níveis de
proficiência avançados", afirma o professor doutor Marcos Cesar Polifemi,
diretor do Centro de Linguística Aplicada da Yázigi Internexus. "Uma forma
de abreviar o tempo de aprendizagem é organizar-se e dedicar pelo menos 30
minutos por dia para autoestudo", sugere Lizika, da Cultura Inglesa.
Quem já tem inglês em nível
básico pode se interessar também por cursos específicos para a área de TI, que
dão ênfase aos termos técnicos e assuntos discutidos no setor de TI.
"Trabalham-se os jargões da área e também o vocabulário relacionado à
carreira e a entrevistas de emprego em cursos voltados tanto para a leitura
como para a conversação e compreensão oral", esclarece Charles Niza, sócio
fundador da escola IT Passport, especializada em cursos de inglês para a área
de tecnologia.
É importante frisar também que,
atualmente, ter desenvoltura em outro idioma além do inglês é considerado um
diferencial. Isso porque mais do que uma ferramenta de comunicação, o
conhecimento de outro idioma demonstra vontade de crescer. "Saber outra
língua significa ter ao seu alcance muito mais informação disponível e mostrar
que tem disposição para aprender além do necessário para sua especialidade
profissional", afirma Bruno Mendes dos Santos, da Tectoy Digital. E ao se
esforçar para falar o idioma nativo de um estrangeiro, ganha-se muito em termos
de relacionamento. "Poucas coisas deixam um estrangeiro não anglófono tão
feliz do que falar a língua dele. Já conquistei a confiança de alemães, suíços
e austríacos porque falava em alemão com eles, mesmo que só um pouco, pois a
língua-padrão em e-mails e conferência é o inglês. Assim como os brasileiros,
eles entendem que falar a língua deles significa que você se interessa pelo
mundo deles", revela dos Santos.
Jacqueline Lafloufa